sábado, 28 de julho de 2012

poemas


O MANTO



Cubro o rosto

Com a cor

Das palavras

Soltas    loucas

Vagabundas

Nas ruas

Da minha boca.



Saio de mim

De cada olho

Dedo a dedo

Bocados de pele

Que me quer vestida

Relance discreto

Em cada traço

Quase desfocado

Sobre breves linhas

De meu corpo

Face incompleta

Quase desconhecida.



Vejo-me e relembro

O beijo perfurado

No peito desnudado

Desatento

Rubro pálido

Do teu rosto.

Em cada

Olhar moribundo

Horizontes

Cinzentos

Azulados

Do mar imenso.



Reclamo

Os sons do tempo

Os abraços contidos

Nos seios retraídos

Da Lua

Solitária

Talvez abandonada

De tão longa

Espera

Entre o amor

E o dia.



Vamo-nos

Espantar

Amantizar

Com a Vida

Tão embevecida

Como os putos das cantigas

Cheios de pão

Nas camisas

De algodão

E um sonho

Na palma de

Cada mão.



É o Manto

Da Beleza

Brilho-realeza

Pardo   nascido

Luzidio

Dos nossos corpos

Rendidos   apetecidos

P´lo Infinito

Inflamado

Em encontros de

Humana

Afeição.
 







AMOR-PORÃO





Não sei bem

Qual é a versão

Enamorada

Da melodia apalavrada

Do poema canção.



A criança é jovem escuta

Sempre alerta e companheira

Tem melodia afinada

Na retina do quase-sonho

Quer mudar o nosso tempo

Em surdina

Tão vincado ânimo

No seu terno coração.



Vem, menina,

Alagar meus pensamentos

Com lágrimas adormecidas

Na palidez do meu rosto

Perdido naquele olhar

Inflamado nos teus dons

Sentidos enlevados

Recordações do colo

Da nossa mãe

Divina.



Nimbada estás

Em cortesias

Supremas

De novos reinos

Pré-cósmicos

(Criatura bonita

Instalada

No porão da minha Vida).



Ó Deusa-menina,

Devolve a Compreensão

Da poesia

Ao mundo

Tumulto-emoção

Eterno encontrão

Na profecia

Do peito apaziguador

Alquimia.



Enlaça-me o regaço

Abraça-me

Com jeito

De mansinho

E estremece o tudo

E o nada

Que és

De mim

Verso-beijo

No universo

Aquecido

Poderoso

Embalado

Pela vida com sentido.



Fruto-de-água

Nenúfar-mocinha

Vizinha minha

Da morte feitiço

Boca recortada

Em lábios-síntese

Gretados de luz

Em espectro

Perfumado

Violeta

Procriado.

Contornos de sereias

Ofugantes

Sedutoras

Despidas

Saciadas no

Espelho cerebral

Do Amor parido

Entre a estrela

E a maresia.



É quase dia

Dentro de mim.





NATUREZA
 

Amo a natureza

Esboçada pelo

Tempo

Chuva dourada

Junto aos rios

Serpenteados

Nas pedras dos

Caminhos

À beira-vida.



O Sol-nascente

Renasce

Nas folhas

Translúcidas

Carnudas

Maçãs bravias

Nas veredas

Muradas

Por videiras

A despontar

Na beleza de um

Olhar comovido

Acolhido em

Afagos

Macios

Do entardecer.



São suspiros.



A Natureza

Respira

Silencia em cada respiro

Em cada poro intenso

O nosso Ser

Uno

Infinto.









PÁSSARO-BORBOLETA
 

Verdes são os sonhos na ribeira

Junto às veredas da quimera

Sentida   tão contida

Às  vezes perdida

Na curva do amanhecer.



Linhas de um vvô

o enson

ado

Abrigado no colo das tuas

Melodias   s o p r a d  a    s

saciadas

À beira de ti

Pássaro - borboleta

Residente na    f l o r  do teu corpo

Irmã do Sem-Tempo.



Riscas com o silêncio do momento

As pautas

respiradas

Contidas                       GRITADAS

Oferecidas

Nas asas afagadas

Pela brisa



São apenas

Pensamentos perfumados

Acariciados pela brisa do Vvvventooo.







DIÁRIO DE BORDO



Rebentação

Maresia sacudida

Por pestanas

Persianas

Longas

Do navio

Corpo-de-gente

Atracado

No interior

Deste livro

Que o meu peito

Escreve  escreve

E não acaba de

Acontecer.



Branca

Cada névoa

Cada página

Xares do acontecer

Guerreira da paz

Reclamada no silêncio

Do tempo encolhido

Desconforto da mente

Quase demente se fosse

Tanto o querer.



É a espera

Do nada

Na volta crescente sem

Regresso da

Morada suprema

Além-tempo

Além-nós

No espaço de

Seres a graça

Regaço eterno

Forte abraço

Que nunca esqueces.





Diário de bordo

Sem terra à vista.







EXAMINANDOS



Jovens mentes

Inclinadas

Acompanhadas

Calcam pensamentos

Dedutivos

Em numéricos contributos



São etapas equacionadas

Da Gravitação Universal

E a Constante de Avogadro

Ionicamente palpitada

Do líquido sobre a massa

Superior em novo formato

Criativo    amancebado

Com o montante

Químico  sulforado

No belo exame

Enxartado

Enxame de ideias

Provocado

Num Mercado volatizado

Quase sem trabalho

Rumo ao risco da

Extinção do interesse pessoal.



Redigem-se leis

Afastam-se papéis

Os dedos não despacham

Protestos

Recuam ante poemas

Confusos

Versos inutilizados

Em surdina

Não declamados

Subjectivos como

O verbo aprender.






A SALA



Quase silêncio.

Apenas o barulho eléctrico

Das lâmpadas

Constante

Artificial

Tolerado por

Rostos académicos calados

Concentrados

Nas folhas do

Enunciado   pálido

Nas gráficas calculadoras

Canetas   em rascunhos

Muita matemática

Pouco literária

Certa oculta

Poesia naquela escolha.



Quase silêncio

Na emoção dos presentes

Exorcismo de fórmulas

Limites notáveis

Prováveis

Trigonometrias

De símbolos letrados.



Complexa

É a área da superfície

Talvez com figuras menos planas.



Respira

A penumbra cinzenta

Dos generosos cortinados

Furtados à seriedade

Matinal de Junho

Vislumbre temperado

Da claridade solar

No recinto externo

De cada corpo

Em cada Ser

Em perpétua definição.





QUERER SER

  

Sentir              Ser

Pensar             Ser

Sorrir              Ser

Servir              Ser

Agir                 Ser

Aguardar         Ser



Beijar e não querer trair o

Acontecer

Permitir morrer

Cada presente    firme mente

Instalado    renascido no

Microcosmo humano

Dilatado

Amador-amado

ancorado

No Coração do Universo.
 







UM QUADRO QUOTIDIANO EM DESCOBERTA



Carnudas

As fibras rasgadas

Descascadas por

Um afiado instrumento

De cozinha.



Alongados os gomos

Um a um

Tombados no interior

Fundo de alumínio

No xadrez ladrilhado aos

Pés do mestre

Culinário

Sentidas voláteis gotículas

Desparticularizadas

Celibatárias

Elevadas em adocicada

Acidez

Oferecidas ao brilho lacrimoso

Dos olhos plácidos

Recorte humano

Tardio    sereno

Luz  macia

De um iniciático verão.



Bafeja um tímido

Espanta-espírito melodioso

Harmonioso

À janela

Moldura aquecida

Beleza cálida

Festiva em

Santidade popular.



O céu com azul

Aclarado pelo sol persistente

Impressão de pássaros

Alados em poses

Plana

Observando

A apreciada quietude.

Sombras  de ângulo astral

Inclinado

Quase decidido a

Repousar no horizonte.



As cinzas em lâmina

Modernas persianas

Dançam leves

Pendulares

Na variedade sinfónica

Chilreada de berço

Abeirada nos cumes

Dos pesarosos prédios

De fungos férteis

Em recrudescer.



Eis as bênçãos

De um acontecer

Vulgar   vigoroso

Renovado em

Fortes enlaces de

Quotidiana cumplicidade.







PERFUME NO NEVOEIRO



Silencio.

Porque falas, coração nocturno?

Ó crescente quarto lunar

Riso na noite perfumada

Leva as sombras em convívio

Duendes encantados

Encharcados

Em poentes

Maravilhamentos.



Voz anónima sinto em mim

Doce fada

Murmurada ao ouvido

Enamorada.

Reclama-me o silêncio

Amoroso

Apaziguado

Em cada palavra

Amordaçada

Não cantada

E persistente.



Exausta

Entrego-me

Indefesa

Ao

Todo encoberto

Nevoeiro interior

Dissipado pelo

Prazer próximo

Do teu beijo alimento

Beleza infinita

No teu eterno olhar.





A NOITE



Vou dormir na noite

Que mora nas traseiras

De minha casa.



Sinto a frescura claro-escura

Sobre a cabeça tombada

Nos braços do parapeito

Da minha janela.



Oh, como é bom dormitar

Ao relento de um fim de dia

Longamente estival

Mais perto do mundo.



Perfume de sapal

Distante

Diletante grasnar de

Gaivota vadia

Residente

Dos pântanos fecundos

Embriagados     envoltos

No manto expectante

Da noite.






EL MANTO



OH, manto oscuro!

Espacio sin rostro    ausente.

En lugar del desconocido

Misterioso palacio alejado

Sin ruinas o destrozos

Restos de ladrillos adormecidos

Deja espontáneamente

Al acaso

O por la vida proyectado

Un pequeño botón de rosa colorado

Vigoroso ser germinado

En mi pecho humano despertar

En tierras cercanas embalado

Con parcos mirados y cuidados

Solo pacientemente alimentado

Cariñado por algunos dedos

Generosos   inebriados

Con la belleza luminosa infinita

El fuego del alba locura

Intenso amor del Divino.







TRIBUTO A J. KRISHNAMURTI



O pensamento é tempo



É fábrica de imagens licorosas

Translúcidas

Difuso ecrã convexo      compulsivo

Em películas

Articulado

Movimentos

Distraídos no indizível

Abrigo do subsolo carnal.



O tempo é inimigo

Do humano

Ser

Dogmático   escolástico

De escolhas vãs   escravas

Ilusões

De sonhos nas palavras

Gordurosas

Amontoadas nos cais

Do império da mente.



Com gestos    sombrios

Passos lentos na calçada

Espectros gigantes do acontecer

Vagueia o tempo

Em cada verso

Recortado    separado

Em pensamentos    sanzonais

Carrilhão de vendavais

Ai! Em que dolorosa compreensão

Fragmentada memória

Um pouco mais intuitiva

Talvez mais compassiva

Rumo ao conteúdo consciente

Despertar da percepção

Talvez um dia radical

De uma terra sem caminhos

Rumo ao Amor e ao

Indizível.




SER TEÓSOFO


Sim, sim, sim!

Ser teósofo é ter a audácia

De navegar naquele riacho

Que se descobre um mar imenso

Dentro de cada ser

Natureza

Microcosmo cercado de líquidos

Por quase todos os nossos lados.



Reflexos divinos

Inacabados

Somos assim

Os cavaleiros

Na mesa escura de grande árvore

Da Stp

Nossa anciã sempre jovem amiga.

Buscamos o oculto

O último invólucro

Da Alma profunda     ainda recolhido

O caminho da Verdade

Do Amor e da Vida

O Brahman da bem-aventurança.



Em roda humana inalamos

O querer

Crescer para dentro

E para fora

A densidade e generosidade

Da mãe-terra bem sacrificada

Com aquela cegueira ainda convalescente

Dos homens de boa vontade.



Sim, Sim, Sim!

Somos amigos e somos irmãos

E companheiros

Eternos paladinos

Da causa teosófica

Em serena meditação

Em silêncio

Em fraterna comunhão

Estudamos a beleza

Da antiga sabedoria

Em várias vozes    suave melodia

Bebemos  o chá

Vitalidade balsâmica

Da nova alegria

Que é compreensão

Da Sabedoria Divina.


























































































TRIBUTO A FLORBELA ESPANCA





No lânguido esmaecer das amorosas

Tardes que morrem voluptuosamente

Ouve-se a melopeia dos jovens pardais

E o ladrar solto de um cão menos caseiro.



São janelas devassadas pelo calor suão

Acariciadas pelo delírio das cortinas

Baínhas bailando ao bafo da brisa

E as fachadas desmaiando na sombra do dia.



Pressentem-se os silêncios de um tampo de rua

Compassadamente estrídulo e os automóveis

Indolentes desenhando uma curva penosa



Clamorosos de um parque amplo, arborizado

E do olhar dos velhos compadres, encostados

Ao recolher dengoso da calma. É a toada da vida.















































O TEU OLHAR





Imenso é o teu olhar

Conversador

Intenso

Imerso

Na intimidade delicada

Carinhosa profundidade

Até ao princípio

Da união cósmica

Dos seres

Chispas esbraseadas

Ruborizadas

Em horizontes de ternura

Distantes

Espiritualidade fraterna

Gerada na dor contida

Do ciclo planetário

Instante a instante

Comprometida com a ilusão

De sermos

Únicos

No nosso contemplar.












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