sábado, 28 de julho de 2012

educação para a ecologia


                                    EDUCAÇÃO PARA A ECOLOGIA

  

   O terceiro planeta do nosso sistema solar, a Terra de todos nós, é o único denso que corresponde ao corpo físico da Humanidade. A palavra homem vem de húmus e significa terra fértil. A Terra, nesta quarta ronda como superorganismo vivo, necessita de cuidados, atitudes de respeito e de amor que lhe devemos, desde que o habitamos, há cerca de 18 milhões anos. O reconhecimento da sua beleza em cada amanhecer, em cada montanha vestida de neve ou de pinheiros, em cada luminosa estrela cintilante, são momentos simplesmente grandiosos no percurso evolutivo da consciência humana.  

   A ecologia vive das relações entre os seres vivos, das relações na comunidade planetária e em todo o universo. E o homem, que é o vértice das hierarquias dos outros seres, gera em si-mesmo os paradigmas de uma Nova Era.   

  Se pensarmos na ecologia como a arte e a técnica de responder às necessidades da nossa habitação comum que é o planeta Terra, o homem vive com uma forte dívida ecológica para com os seus ecossistemas naturais, devido ao desrespeito que tem manifestado ao longo da sua história, em especial a partir da época da revolução industrial que veio a acelerar o lado sombrio de um progresso compulsivo de contaminação e destruição a qualquer custo. Um progresso à custa da hecatombe.

   A educação ambiental nas escolas, na família, na vizinhança, já há algum tempo preocupação de alguns, começou a desenvolver, mediante uma prática que vincula o educando com  a comunidade, valores e atitudes que paulatinamente vão promovendo um comportamento não-separatista com as diversas formas de vida existentes no nosso meio envolvente.

   A 9 de Julho de 1996, foi assinado um inovador protocolo de cooperação entre o então Ministério de Educação português e o Ministério do Ambiente que pretendia enquadrar acções comuns a nível de projectos escolares, com a introdução da Educação Ambiental nas orientações escolares e na formação dos professores. Apesar de alguns resultados pertinentes, este protocolo carece de uma estratégia política que diminua a instabilidade anual dos coordenadores dos projectos ligados à educação ambiental.

   Para oferecer aos educandos uma formação teórica e prática capaz de desenvolver esse comportamento não-separatista foi também pensada a área de Desenvolvimento Pessoal e Social na escola básica actual.

   O que é o Desenvolvimento Pessoal e Social no ensino, também commumente designado por DPS?

   Segundo os manuais, o Desenvolvimento Pessoal e Social é uma vasta área de conhecimento que pretende integrar os múltiplos saberes que visam a compreensão da complexidade dos processos de socialização e de preservação de valores num mundo em construção, e cuja finalidade última é o desenvolvimento de programas e orientações que promovam o despertar pleno do indivíduo nas suas reponsabilidades e saberes. Numa época em que se preconiza a adopção de perspectivas multidisciplinares, a importância que esta área deverá ter na educação decorre da sua natureza integradora e transdisciplinar.



   Foi a criação oficial desta matéria transversal no ensino português mais um passo ou mais uma intenção no sentido da construção gradual de uma consciência ecológica colectiva. O Desenvolvimento Pessoal e Social começou então por ser uma disciplina autónoma, em alternativa à Educação Moral Religiosa Católica já existente e opcional, com uma preparação académica prévia dos seus docentes, com cursos de formação teórico-prática intensiva para professores e outros educadores, que eu própria frequentei. Esta nova disciplina chegou a ser leccionada em algumas escolas, com entusiasmo, mas as dificuldades inerentes à novidade que representava, acrescida da previsível polémica que suscitou, terão contribuído para o seu quase desaparecimento no ensino público. Actualmente constitui sobretudo um programa transdiciplinar que subjaz a um conjunto de matérias e actividades didácticas, curriculares e extra-curriculares, que vêm sendo aplicadas e implementadas desde o ensino pré-escolar ao 9ºano de escolaridade,  suscitando particular atenção e disponibilidade da parte dos orientadores das disciplinas de ciências naturais e sociais, bem como das áreas curriculares como a Formação Cívica e a Área de Projecto.

   A educação é sempre intencional. A sua finalidade de orientar os alunos no caminho do desenvolvimento pessoal e social poderia ter alcançado maior sucesso, se não fosse a febre induzida pela competitividade desenfreada para o mundo económico e social, espelhada nos “rankings” nacionais de escolas e subsequente escolha dos cursos superiores, sobretudo em relação aos considerados com maior “status” socioeconómico.

   A educação é uma ajuda que a sociedade e cultura humana propiciam ao indivíduo para que ele se sociabilize, se humanize e adquira cultura adequadamente. Mas nós sabemos que a educação começa em casa e se estende à vivência social, em geral. Na vertente da ecologia social, a actual sociedade vem acusando um desenvolvimento insustentável. Muitos administradores embelezam as cidades com praças, estátuas e parques, mas mantêm um mau sistema de segurança, encerram hospitais, desvirtuam o ensino, não montam uma rede adequada de água e de irrigação necessárias, por vezes, nem de esgotos em zonas habitadas. Insuficientes são ainda as estações de tratamento de águas residuais criadas que para melhorar a qualidade de vida no nosso país. Estas situações, como muitas outras, são verdadeiros crimes contra a ecologia social e ambiental.

   O pensar e o fazer pedagógico envolvem a compreensão das relações entre o educar, o humanizar e o sociabilizar. São as acções que determinam o modo de pensar que está subjacente ao processo educativo.

   E o processo educativo deve favorecer o crescimento e a formação de uma consciência crítica.

   As palavras são apenas meios para atingir a compreensão. Independentemente de todas as definições, o termo educação é sempre problemático. Mas o seu significado envolve necessariamente a compreensão do humano, da natureza, do processo de humanização, de socialização.

   Como encontrar uma harmonia quando a sociedade industrial, tecnológica e científica caminha em sentido diferente da educação cívica? Como encontrar a harmonia quando somos empurrados a vivenciar o que não escolhemos? Como desenvolver a consciência crítica, quando as opções são unilaterais?

   Os fins da educação confundem-se com os fins da pessoa, tanto que a educação é o recurso disponibilizado pela sociedade destinado à auto-relização humana. O fim da educação é conseguir que a pessoa realize todos os valores positivos possíveis no seu percurso existencial.

   Por isso, o objectivo maior de todo o processo educativo deve ser desenvolver a capacidade crítica do aluno. A educação nunca deve ser manipuladora do indivíduo, mas libertadora das forças que impedem o bom autodesenvolvimento.

   A não-separatividade intrínseca ao processo educativo deve possibilitar a compreensão da educação como um processo de formação e de adaptação do sujeito ao meio, por mais difícil que possa ser ou parecer a execução desta tarefa.

   Aliás, a acção educadora é árdua por si só. O sucesso depende muito do interesse do educando. No entanto, devem ser claras as normas e a devida conveniência para o jovem educando quando este prefere o caminho menos trabalhoso.

   É importante aprender a conviver com regras e aceitá-las, compreendê-las, respeitá-las e um sujeito adaptado socialmente é capaz de reconhecê-las e adoptar comportamentos adequados.

   Não somos ou não devemos ser ilhas humanas.

   Nenhuma educação pode ser amorfa e sem respeito. Os graves desequilíbrios de comportamentos são resultado, muitas vezes, de uma educação que não tem regras determinadas, não impõe o respeito e  obrigações indispensáveis.

   Para isso, é fundamental desenvolver ambientes sadios de vida, de estudo, de aprendizagem e de convivência.

   Contudo, nos últimos séculos, o investimento tem sido feito de forma unilateral no mundo material e esquece-se o indivíduo na sua dimensão espiritual, na sua ética, na sua consciência, na sua essência. Uma das muitas consequências da acção humana são as espécies extintas e em extinção, devido a negócios rentáveis, muitas vezes ilegais, especulativamente mais rentáveis e corruptos, assim como certo tipo de aplicações químicas e tecnológicas irresponsáveis em habitats naturais e zonas habitacionais.

   Felizmente as situações de crise também são oportunidades para despertarmos e crescermos.

   Uma pessoa que aprende a não se sentir separado do mundo e dos outros, desenvolve uma consciência de participação da sua parte no Todo, que na essência é o amor pela vida na grande morada que é o planeta Terra, através da prática da solidariedade.

   Eu gosto de acreditar no Amor e continuo a confiar no ser humano que está a caminhar e a descobrir-se no Novo Mundo da ecologia integral, apesar das aparentes regressões nos acontecimentos ciclícos da existência humana

   Mas para a evolução humana ser menos compartimentada, são decisivas atitudes de respeito e de compreensão, segundo ensinamentos ancestrais, para com a natureza diversa. De acordo com o teólogo brasileiro Leonardo Boff, essa atitude sensível pela profundidade misteriosa da vida só se consegue verdadeiramente se fôr recuperada a dimensão do feminino tanto na mulher como no homem. O nosso lado feminino ajudará a resgatar a dimensão do sagrado e o sagrado impõe sempre limites à manipulação e à ambição do mundo, limites que permitem salvaguardar o equilíbrio ecológico do homem, tanto em cada momento da vida quotidiana como na sua relação com o interno, tanto no gradual conhecimento de si próprio como na expansão da sua existência.

                                                                                                           Rosa Duarte   




 

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