EDUCAÇÃO PARA A ECOLOGIA
O terceiro planeta do nosso sistema solar, a
Terra de todos nós, é o
único denso que corresponde ao corpo físico da Humanidade. A palavra homem vem
de húmus e significa terra fértil. A
Terra, nesta quarta ronda como superorganismo vivo, necessita de cuidados, atitudes
de respeito e de amor que lhe devemos, desde que o habitamos, há cerca de 18
milhões anos. O reconhecimento da sua beleza em cada amanhecer, em cada montanha
vestida de neve ou de pinheiros, em cada luminosa estrela cintilante, são momentos
simplesmente grandiosos no percurso evolutivo da consciência humana.
A ecologia vive das relações entre os seres
vivos, das relações na comunidade planetária e em todo o universo. E o homem,
que é o vértice das hierarquias dos outros seres, gera em si-mesmo os
paradigmas de uma Nova Era.
Se pensarmos na ecologia como a arte e a
técnica de responder às necessidades da nossa habitação comum que é o planeta
Terra, o homem vive com uma forte dívida ecológica para com os seus ecossistemas
naturais, devido ao desrespeito que tem manifestado ao longo da sua história,
em especial a partir da época da revolução industrial que veio a acelerar o lado
sombrio de um progresso compulsivo de contaminação e destruição a qualquer
custo. Um progresso à custa da hecatombe.
A educação ambiental nas escolas, na
família, na vizinhança, já há algum tempo preocupação de alguns, começou a desenvolver,
mediante uma prática que vincula o educando com
a comunidade, valores e atitudes que paulatinamente vão promovendo um
comportamento não-separatista com as diversas formas de vida existentes no
nosso meio envolvente.
A 9 de Julho de 1996, foi assinado um inovador
protocolo de cooperação entre o então Ministério de Educação português e o
Ministério do Ambiente que pretendia enquadrar acções comuns a nível de
projectos escolares, com a introdução da Educação Ambiental nas orientações
escolares e na formação dos professores. Apesar de alguns resultados
pertinentes, este protocolo carece de uma estratégia política que diminua a
instabilidade anual dos coordenadores dos projectos ligados à educação
ambiental.
Para oferecer aos educandos uma formação
teórica e prática capaz de desenvolver esse comportamento não-separatista foi também
pensada a área de Desenvolvimento Pessoal e Social na escola básica actual.
O que é o Desenvolvimento Pessoal e Social
no ensino, também commumente designado por DPS?
Segundo os manuais, o Desenvolvimento
Pessoal e Social é uma vasta área de conhecimento que pretende integrar os
múltiplos saberes que visam a compreensão da complexidade dos processos de
socialização e de preservação de valores num mundo em construção, e cuja finalidade
última é o desenvolvimento de programas e orientações que promovam o despertar
pleno do indivíduo nas suas reponsabilidades e saberes. Numa época em que se
preconiza a adopção de perspectivas multidisciplinares, a importância que esta
área deverá ter na educação decorre da sua natureza integradora e
transdisciplinar.
Foi a criação oficial desta matéria
transversal no ensino português mais um passo ou mais uma intenção no sentido da
construção gradual de uma consciência ecológica colectiva. O Desenvolvimento
Pessoal e Social começou então por ser uma disciplina autónoma, em alternativa
à Educação Moral Religiosa Católica já existente e opcional, com uma preparação
académica prévia dos seus docentes, com cursos de formação teórico-prática intensiva
para professores e outros educadores, que eu própria frequentei. Esta nova
disciplina chegou a ser leccionada em algumas escolas, com entusiasmo, mas as
dificuldades inerentes à novidade que representava, acrescida da previsível
polémica que suscitou, terão contribuído para o seu quase desaparecimento no
ensino público. Actualmente constitui sobretudo um programa transdiciplinar que
subjaz a um conjunto de matérias e actividades didácticas, curriculares e
extra-curriculares, que vêm sendo aplicadas e implementadas desde o ensino
pré-escolar ao 9ºano de escolaridade, suscitando particular atenção e
disponibilidade da parte dos orientadores das disciplinas de ciências naturais
e sociais, bem como das áreas curriculares como a Formação Cívica e a Área de
Projecto.
A educação é sempre intencional. A sua finalidade
de orientar os alunos no caminho do desenvolvimento pessoal e social poderia
ter alcançado maior sucesso, se não fosse a febre induzida pela competitividade
desenfreada para o mundo económico e social, espelhada nos “rankings” nacionais de escolas e subsequente
escolha dos cursos superiores, sobretudo em relação aos considerados com maior
“status” socioeconómico.
A educação é uma ajuda que a sociedade e
cultura humana propiciam ao indivíduo para que ele se sociabilize, se humanize
e adquira cultura adequadamente. Mas nós sabemos que a educação começa em casa
e se estende à vivência social, em geral. Na vertente da ecologia social, a actual
sociedade vem acusando um desenvolvimento insustentável. Muitos administradores
embelezam as cidades com praças, estátuas e parques, mas mantêm um mau sistema
de segurança, encerram hospitais, desvirtuam o ensino, não montam uma rede
adequada de água e de irrigação necessárias, por vezes, nem de esgotos em zonas
habitadas. Insuficientes são ainda as estações de tratamento de águas residuais
criadas que para melhorar a qualidade de vida no nosso país. Estas situações,
como muitas outras, são verdadeiros crimes contra a ecologia social e ambiental.
O pensar e o fazer pedagógico envolvem a
compreensão das relações entre o educar, o humanizar e o sociabilizar. São as
acções que determinam o modo de pensar que está subjacente ao processo
educativo.
E o processo educativo deve favorecer o
crescimento e a formação de uma consciência crítica.
As
palavras são apenas meios para atingir a compreensão. Independentemente de
todas as definições, o termo educação é sempre problemático. Mas o seu
significado envolve necessariamente a compreensão do humano, da natureza, do processo
de humanização, de socialização.
Como encontrar uma harmonia quando a
sociedade industrial, tecnológica e científica caminha em sentido diferente da
educação cívica? Como encontrar a harmonia quando somos empurrados a vivenciar
o que não escolhemos? Como desenvolver a consciência crítica, quando as opções
são unilaterais?
Os fins da educação confundem-se com os fins
da pessoa, tanto que a educação é o recurso disponibilizado pela sociedade
destinado à auto-relização humana. O fim da educação é conseguir que a pessoa
realize todos os valores positivos possíveis no seu percurso existencial.
Por isso, o objectivo maior de todo o
processo educativo deve ser desenvolver a capacidade crítica do aluno. A
educação nunca deve ser manipuladora do indivíduo, mas libertadora das forças
que impedem o bom autodesenvolvimento.
A não-separatividade intrínseca ao processo
educativo deve possibilitar a compreensão da educação como um processo de
formação e de adaptação do sujeito ao meio, por mais difícil que possa ser ou
parecer a execução desta tarefa.
Aliás, a acção educadora é árdua por si só. O
sucesso depende muito do interesse do educando. No entanto, devem ser claras as
normas e a devida conveniência para o jovem educando quando este prefere o caminho
menos trabalhoso.
É importante aprender a conviver com regras
e aceitá-las, compreendê-las, respeitá-las e um sujeito adaptado socialmente é
capaz de reconhecê-las e adoptar comportamentos adequados.
Não somos ou não devemos ser ilhas humanas.
Nenhuma educação pode ser amorfa e sem
respeito. Os graves desequilíbrios de comportamentos são resultado, muitas
vezes, de uma educação que não tem regras determinadas, não impõe o respeito
e obrigações indispensáveis.
Para isso, é fundamental desenvolver
ambientes sadios de vida, de estudo, de aprendizagem e de convivência.
Contudo, nos últimos séculos, o investimento
tem sido feito de forma unilateral no mundo material e esquece-se o indivíduo
na sua dimensão espiritual, na sua ética, na sua consciência, na sua essência. Uma
das muitas consequências da acção humana são as espécies extintas e em extinção,
devido a negócios rentáveis, muitas vezes ilegais, especulativamente mais
rentáveis e corruptos, assim como certo tipo de aplicações químicas e
tecnológicas irresponsáveis em habitats
naturais e zonas habitacionais.
Felizmente as situações de crise também são
oportunidades para despertarmos e crescermos.
Uma pessoa que aprende a não se sentir
separado do mundo e dos outros, desenvolve uma consciência de participação da
sua parte no Todo, que na essência é o amor pela vida na grande morada que é o
planeta Terra, através da prática da solidariedade.
Eu gosto de acreditar no Amor e continuo a confiar
no ser humano que está a caminhar e a descobrir-se no Novo Mundo da ecologia
integral, apesar das aparentes regressões nos acontecimentos ciclícos da
existência humana
Mas para a evolução humana ser menos
compartimentada, são decisivas atitudes de respeito e de
compreensão, segundo ensinamentos ancestrais, para com a natureza diversa. De
acordo com o teólogo brasileiro Leonardo Boff, essa atitude sensível pela
profundidade misteriosa da vida só se consegue verdadeiramente se fôr
recuperada a dimensão do feminino tanto na mulher como no homem. O nosso lado feminino
ajudará a resgatar a dimensão do sagrado e o sagrado impõe sempre limites à
manipulação e à ambição do mundo, limites que permitem salvaguardar o
equilíbrio ecológico do homem, tanto em cada momento da vida quotidiana como na
sua relação com o interno, tanto no gradual conhecimento de si
próprio como na expansão da sua existência.
Rosa Duarte
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