O pirilampo
frequento a escola mágica da vida, maciça
como um pão escuro de farelo.
vislumbro na mala o perfume azul do
tempo e o incenso libélula do sentimento.
a pasta do meu futuro incerto abre-se
à espera de uma palavra que passe.
quero pensar sobre o presente.
aceno-lhe. olhamo-nos. sorrimo-nos.
ainda é cedo. tenho que esvaziar o
pensamento. limpo-me de ideias franzinas.
quem quer fazer-me a cabeça? a minha funciona,
quero ser eu a fazê-la.
quanto tempo? uma vida?
oiço-me escorrer. regurgitar talvez saliva.
o pão, esse, saltou à boca do estômago.
não ouço, sinto chover em mim. estou
a borbulhar. penso no acontecer. com a cabeça. não sei o que sinto. fome? não
interessa. arrumo num alguidar as recordações. como crescem! cheira a éter. e a
presenças perdidas no tempo.
- Ruizinho, Ruizinho, muitos olhinhos,
ouviste? quando Eu passar, ficarei um pouco mais. só para te ajudar. não tenhas
medo. eles são uns medricas. fica. verás que o que há
mais por aí é gente esquecida. e isto
é tudo muito mais simples do que pensas. só as palavras vividas podem ter sentido,
mas aos poucochinhos. porque os cegos
são os que veem. os mudos são os que falam. os malucos são os ilibados.
histórias. quase biografias. páginas em branco palradoras.
são as metáforas do silêncio. as parábolas
das ausências. histórias desencantadas para aliviar.
viver é saber contar.
é tudo tão único! Tu és único. o medo
é não saber contar. e querer juntar. multiplicar. os dividendos. o pavor de
dividir. somos pirilampos sem luz. fundidos. fodidos. magoados na alma. pouco def…defendidos.
volto para casa, mas não tenhas medo.
todos os dias velarei por ti. o meu
amor é um escudo. o óbolo do meu dracma. serás precioso menino. firme
olhando cada brilho intenso da lua a seres maior do que a
gente
maior do que o sol poente que te viu
nascer. cheiras a luz sininho. vou acender-te antes de partir.
Homenagem às Cercis
Rosa Duarte (7/maio/2012)
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