Não deixes que a vida se despeça
O brilho é
tão intenso
No azul do firmamento
Teus olhos
meninos concedidos
Cintilantes
a marear das trémulas mãos.
- Deixa que
a vida se despeça.
Dizes-me e sorris
quase a ordenar.
Hoje oitenta
já não chega
Quer mais,
mãe
Mora no teu
cansado corpo
Mas brinca ao firme andar
E ouve o
silêncio ensurdecedor
Do passado
bem aprendido.
Vem para
aqui, mãe
Não te
escondas em ti
As nossas
vozes são reais e
pensam no
teu bensonhado berço.
Mais anitos,
pois então.
E voltas-me
a sorrir.
Sabes, a
vida quere-te
Ver jogar também ao
dominó
E cantar
muitos parabéns.
Para já
são oitenta primaveras.
Afinal, dizes-me tu
- Só vale a
pena habitar
Um corpo que
não me envelheça
A solidão de resiliência.
Preserva em ti o
amor que te conhecemos
O peito
ancorado da longa vida
Que ainda nos faz tanta falta
Em
sonhos repetidos e sentidos
Ao fogão
enegrecido pelo tempo
E a casa iluminada pelas chamas
Dos
contentamentos ancestrais.
Tens razão,
mãe
Não há
pobreza na alegria
Nem tristeza
na dignidade
De uma vida
cultivada e
Partilhada
até à despedida.
Leves oiço a correr
no teu rosto
As lágrimas nos
esteiros da tua pele
Que ainda te
concedem pedidos espaçados
De calor e
maresia crepuscular
E um
horizonte matizado de infinito
Hospedando todos os mais queridos
No álbum outonal da tua vida.
No álbum outonal da tua vida.
Amo-te mãe.
Continuemos de
mãos dadas
Assim
Assim
Quero
oferecer-te um pouco mais
No meu
humilde tempo dedicado
Sentadas lado
a lado
No
silêncio por nós aquecido.
Ainda bem que ficas um pouco mais.
Temos
No céu
tantas estrelas para contar
A zelar por
cada uma de nós
E sempre a conferenciar dentro de ti.
É isso mãe
Tu não queres que a vida se despeça.
Conversa com ela.
Amemos a primavera do entardecer.
Conversa com ela.
Amemos a primavera do entardecer.
Laranjeiro,
7 de junho de 2013
Rosa Duarte
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