quinta-feira, 25 de julho de 2013

publicado no Setúbal na Rede



Lemos com alguma frequência notícias de universidades portuguesas a serem financiadas por entidades estrangeiras para desenvolverem trabalhos de investigação como, por exemplo, o da doença de Parkinson, recentemente apoiado pela fundação Michael J. Fox com um subsídio de 192 mil euros a uma equipa de cientistas da Universidade de Coimbra.

Não há dúvida que a crise cá em Portugal é também de mentalidades.

“Se queremos usar a investigação também como motor da economia e para sairmos desta crise, então não podemos continuar assim” afirmou a jovem investigadora, Diana Neves, indignada, no protesto que os bolseiros de investigação promoveram segunda-feira dia 15 de julho, em Lisboa, para exigir a abertura do concurso de bolsas da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) prometida para junho.

As prioridades na educação revelam as preocupações e a mentalidade de quem gere este país. Corte na atribuição de bolsas, corte nas bolsas atribuídas, num país em que parece que só os de fora sabem do trabalho dedicado dos investigadores portugueses. Estou a pensar em particular no financiamento do ensino público.

Há que investir. Palavras nunca dantes tão ouvidas. Com a certeza, porém, de que o investimento é mais do que aplicar dinheiro para o rentabilizar. Embora conscientes que a maior parte dos projetos respire de subsídios. Mas investir é muito mais do que isso: é acreditar numa causa e hasteá-la no dia-a-dia de trabalho, para lhe dar forma e razão de ser. Sabe deus (seja ele qual for) a que custo… Daí o mérito maior. Um país pequeno como o nosso não tem que ter uma mentalidade proporcional. Pelo contrário, pode provar que sabe priorizar as necessidades do país e aproveitar os talentos internos. Os recursos podem ser os suficientes para estabelecer inclusive protocolos com empresas e universidades estrangeiras.

Porque os jovens investigadores quando saem deste país com bolsas, mesmo que sejam pequenas, muitos são os polos de investigação de destino que asseguram parte dos meios necessários para a prossecução de um trabalho com boas condições. Em Utrecht, na Holanda, por exemplo. Assim haja uma bolsa de origem.

A Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) lançou, entretanto, um abaixo-assinado que, segundo a jovem bolseira citada, conta já com três mil assinaturas. E que põe em cima da mesa (“apenas”) o incumprimento dos prazos…

A FCT reconhece o incómodo dos atrasos na abertura do concurso, justificando com a abertura de vários processos ao mesmo tempo, no âmbito da sua atividade. Pois…muitos dos processos serão de inviabilização na atribuição de bolsas a jovens com C.V. invejáveis. Conheço, infelizmente, muitos casos.

E abrem-se estágios nos laboratórios para aproveitar a boa formação científica de cada um. O ITQB abriu uma vaga no gabinete de comunicação. Desculpem, mas até fico boquiaberta perante os números do desemprego jovem no nosso país…

Há quem diga que a vida é um estágio. Pelos vistos, é um termo que começa a ser vitalício. E é pena que, para muitos, nem isso seja.

Se a resposta oficial relativa a uma candidatura de bolsa de investigação submetida em julho é respondida negativamente no julho seguinte, está tudo dito.

Querem-se rankings no ensino português, então o exemplo de eficiência institucional tem de explicitar esse desígnio primeiramente nos seus patamares decisores.

Continuamos sem luz ao fundo dos corredores ministeriais.

                                                                                                                    Rosa Duarte


 

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