http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=20023
Desinvestir na investigação académica?
Desinvestir na investigação académica?
Lemos com alguma frequência notícias de universidades
portuguesas a serem financiadas por entidades estrangeiras para desenvolverem trabalhos
de investigação como, por exemplo, o da doença de Parkinson, recentemente apoiado
pela fundação Michael J. Fox com um subsídio de 192 mil euros a uma equipa de
cientistas da Universidade de Coimbra.
Não há dúvida que a crise cá em Portugal é também de
mentalidades.
“Se queremos usar a
investigação também como motor da economia e para sairmos desta crise, então
não podemos continuar assim” afirmou a jovem investigadora, Diana Neves,
indignada, no protesto que os bolseiros de investigação promoveram
segunda-feira dia 15 de julho, em Lisboa, para exigir a abertura do concurso de
bolsas da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) prometida para junho.
As prioridades na educação revelam as preocupações e a
mentalidade de quem gere este país. Corte na atribuição de bolsas, corte nas
bolsas atribuídas, num país em que parece que só os de fora sabem do trabalho dedicado
dos investigadores portugueses. Estou a pensar em particular no financiamento do
ensino público.
Há que investir. Palavras nunca dantes tão ouvidas. Com a
certeza, porém, de que o investimento é mais do que aplicar dinheiro para o
rentabilizar. Embora conscientes que a maior parte dos projetos respire de
subsídios. Mas investir é muito mais do que isso: é acreditar numa causa e
hasteá-la no dia-a-dia de trabalho, para lhe dar forma e razão de ser. Sabe
deus (seja ele qual for) a que custo… Daí o mérito maior. Um país pequeno como
o nosso não tem que ter uma mentalidade proporcional. Pelo contrário, pode
provar que sabe priorizar as necessidades do país e aproveitar os talentos
internos. Os recursos podem ser os suficientes para estabelecer inclusive protocolos
com empresas e universidades estrangeiras.
Porque os jovens investigadores quando saem deste país com
bolsas, mesmo que sejam pequenas, muitos são os polos de investigação de
destino que asseguram parte dos meios necessários para a prossecução de um
trabalho com boas condições. Em Utrecht, na Holanda, por exemplo. Assim haja
uma bolsa de origem.
A Associação de Bolseiros de
Investigação Científica (ABIC) lançou, entretanto, um abaixo-assinado que,
segundo a jovem bolseira citada, conta já com três mil assinaturas. E que põe
em cima da mesa (“apenas”) o incumprimento dos prazos…
A FCT reconhece o incómodo dos
atrasos na abertura do concurso, justificando com a abertura de vários
processos ao mesmo tempo, no âmbito da sua atividade. Pois…muitos dos processos
serão de inviabilização na atribuição de bolsas a jovens com C.V. invejáveis.
Conheço, infelizmente, muitos casos.
E abrem-se estágios nos
laboratórios para aproveitar a boa formação científica de cada um. O ITQB abriu
uma vaga no gabinete de comunicação. Desculpem, mas até fico boquiaberta
perante os números do desemprego jovem no nosso país…
Há quem diga que a vida é um
estágio. Pelos vistos, é um termo que começa a ser vitalício. E é pena que, para
muitos, nem isso seja.
Se a resposta oficial relativa
a uma candidatura de bolsa de investigação submetida em julho é respondida
negativamente no julho seguinte, está tudo dito.
Querem-se rankings no ensino português, então o exemplo de eficiência institucional
tem de explicitar esse desígnio primeiramente nos seus patamares decisores.
Continuamos sem luz ao fundo
dos corredores ministeriais.
Rosa Duarte
Sem comentários:
Enviar um comentário