terça-feira, 14 de maio de 2013

«Há seres inferiores, para quem a sonoridade de um adjetivo é mais importante...»

               FALAI NA FRASE...

Disse Carlos:
Há seres inferiores,
para quem a sonoridade de um adjetivo é
mais importante que a exatidão de um sistema...

(Está a criticar?)

Eu sou um desses monstros.

(Seremos todos?)

O velho avô, que tanto o amava,
exclamou, desarmado:
Diabo! então és um retórico...

Já então diletante, sincero e amante
das coisas intensas, o neto admitiu:
Pois... Quem o não é?
E resta saber por fim se o estilo
não é uma disciplina do pensamento.

(Curiosa a sua consciência!
Ou, melhor, a consciência do seu criador...)

E o jovem Maia continua:
Em verso, o avô sabe, é
muitas vezes a necessidade de
uma rima que produz a originalidade
de uma imagem...

(Cá temos o excelente contributo
dos literatos para o estudo do
valor inventivo humano):

E quantas vezes o esforço para completar
bem a cadência de uma frase,
não poderá trazer desenvolvimentos novos
e inesperados de uma ideia...

Carlos Eduardo emocionado remata:
Viva a bela frase!

Um Carlos intemporal dos enlevos verbais.

O primado contagiante da poesia luminosa
sobre o pragmatismo racional martelado.

Eis o labor de fingimento deveras sentido
De um monstro pensador deveras sincero.

Nada menos do que compreender
o ato criativo em empírica observação
no laboratório literário da mente.

A frase autoral em autorreflexão.

Um experiente mestre da palavra
pode tal discernimento literário da realidade
alcançar da misteriosa raiz da criação humana.

                                Lisboa, 14 de maio de 2013
                                    Rosa Duarte (a partir d'Os Maias de Eça de Queirós, cap.IX)







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