EDUCAÇÃO PARA A CULTURA
E PARA AS CULTURAS
(foi mais ou menos
assim a intervenção espontânea, após
o contributo dos oradores do painel sobre o tema Cultura na região, entre as
demais intervenções, que marcou o arranque do ciclo de conferências do Setúbal
na Rede)
De tudo o que de importante foi aqui dito, gostaria apenas de
acrescentar que a educação para a cultura e para as culturas continua o seu
difícil e sinuoso caminho nas escolas em geral, porque, como sabemos, as artes
na escolaridade obrigatória, que é uma área vital da cultura desde tenra idade,
se reduz praticamente ao ensino de apenas 2 anos de educação musical no segundo
ciclo, à educação visual e pouco mais. Mesmo como opção, as ofertas artísticas são escassas. As
poucas escolas com essas ofertas realmente disponíveis implicam muitas vezes
sair da área de residência. Muito nos têm valido, aos professores e aos pais,
para a educação artística das nossas crianças e dos jovens, os grupos de teatro
com o de Almada e de Setúbal e os clubes recreativos locais.
É a educação para o consumismo e para a competição
desenfreada que deve dar espaço à cultura, à cultura artística, performativa,
plástica, poética, reflexiva, como veículos privilegiados dos valores humanos,
éticos e étnicos. Porque se tratam de momentos particularmente críticos nesta
conjuntura político-social e económica, mais emergentes são ainda as atitudes
éticas, cívicas e pedagógicas, urgentes para reforçar em contraponto.
Desde os primeiros anos de vida de cada criança, a partir de
certa altura também na escola, inequivocamente é a prática do exemplo o melhor
método pedagógico para a apreensão e interiorização do valor do respeito por si
e pelos outros, que é universal, inestimável e transversal a qualquer cultura. Daí,
assumir-se o simples ato de observação atenta da realidade, a compreensão crítica
e criativa em cada experiência. Com essa responsabilidade acrescida, cada um de
nós vê-se confrontado com a inevitabilidade de se reencontrar neste século
individualista e reorientar as suas prioridades sociais, profissionais,
familiares, necessárias à sua satisfação pessoal. É que sabemos ser a
verdadeira realização pessoal o porto seguro do bem-estar de cada indivíduo, só
possível pela participação alargada e o consequente reconhecimento grupal. Sobretudo
por aqueles grupos que, naturalmente, ganham maior significado, conforme os
objetivos e os comportamentos que os animam.
Na nossa região de Setúbal, e estou a pensar na minha escola,
a educação é pensada em função sobretudo da cultura dominante, mas também procura
respeitar as outras culturas, nomeadamente a africana, a brasileira, a chinesa,
a indiana, a afegã, a ucraniana, que têm expressões próprias e de grande
variedade local e regional que, em muito, valorizam a nacional e em particular
aquela que vai ganhando traços próprios, que é a da nossa região de Setúbal.
O segredo é mantermo-nos em rede, não apenas com os nossos
ideais de vida, que é o que mais nos dignifica, mas também, e por essa via, uns
com os outros nesta conjuntura atual mais dolorosa. Não nos deixarmos
entristecer e constranger com as austeridades económica, política e ética, mas
mantermo-nos particular e permanentemente em rede, como vasos comunicantes,
através dos melhores projetos que a nossa região nos tem felizmente presenteado:
o Teatro Municipal de Almada, o T.A.S., o teatro Extremo, o Setúbal na Rede, as Coletividades e
Associações, entre muitos outros.
Palmela, 5 de fevereiro de 2013
Rosa Duarte
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