A EDUCAÇÃO DOS FILHOS
DOS OUTROS
Porque é que tenho de
pagar a educação dos filhos dos outros?
Nunca ninguém vos confrontou com este pensamento?
É uma interrogação mais ouvida do que o desejável, que se prende
e se depreende facilmente da conjuntura económica atual. Embora se saiba que,
na prática, a educação nunca foi verdadeiramente isenta de pagamentos, dos
dispendiosos manuais, os consumíveis diversos de cada área de saber ou
disciplina, as refeições fora de casa, as visitas de estudo…, todavia parece que
agora estão a ser equacionados novos custos adicionais. Parte das atividades
extracurriculares. Para já…
Até ao momento tem havido pequenos, cada vez mais pequenos,
subsídios para os mais carenciados, de acordo com o rendimento per capita. (E há quem os condene!) Esperemos
que os famigerados não sejam arrastados pelos cortes. Alguns poderão ser fraude
e oportunismo, é possível. Mas cabe às instituições certificadas acionarem os
mecanismos legais para os combater e evitar. Porque bem pior são os paraísos fiscais
que, se acabassem, então a crise instalada seria uma inofensiva criança
irrequieta. O bem-estar de poucos não pode estar a cargo do sofrimento de
muitos!
E se desenvolvermos a corresponsabilidade social e a cooperação
nesta sociedade que precisa de continuar a investir e de cumprir regras?
A responsabilização dos pais na educação dos seus filhos é um
valor da máxima prioridade. É aqui que reside a génese do sucesso da construção
familiar, social, económica e política de uma nação. Esse papel educativo
parental deve ser exercido com uma expressão muito efetiva no acompanhamento
diário dos educandos, quer na interação com a sua vida escolar e social, quer
na resposta às suas necessidades materiais e didáticas. Na certeza de que os
filhos dos outros poderão ser os amigos dos nossos. E não há pais perfeitos.
Apenas muitos que dão o seu melhor, o que já é perfeito.
Se devemos instituir multas para os pais que descuram as suas
responsabilidades educativas? Percebo a intenção da ideia, mas considero que a
multa mais pesada para qualquer pai ou mãe é ou deveria ser a sua própria consciência
perante as dificuldades ou mesmo incapacidades de ajudar os seus filhos no direito
inalienável que é a educação. Se nem todos são bons pais é porque eles próprios
precisam de apoio. E não estou só a falar de dinheiro, naturalmente. A relação
da escola com os pais é, na maioria dos casos, muito proveitosa. Mas a verdade
é que é mais fácil educar uma criança ou um jovem do que um adulto. Não
obstante o amor dos pais ser tão incomensurável que conseguem, às vezes, autorreavaliar-se
e reformarem os princípios da sua cultura familiar. É bom quando se acredita no
processo e nas metas de um sistema educativo, também no português, participando
ativamente no trabalho que há a fazer em cada realidade local e escolar.
Porque é que temos de pagar a educação dos filhos dos outros?
Porque aos pagarmos a educação dos filhos uns dos outros com
os impostos de todos, refiro-me aos que os pagam bem entendido, estamos a
garantir, à partida, que todas as famílias poderão defender uma escolaridade
obrigatória para os seus filhos. Mesmo que, como sabemos, alguns pais ainda não
tenham percebido o verdadeiro impacto formador da aprendizagem em contexto
escolar para o bom crescimento dos seus educandos. E, acima de tudo, qualquer
pai não consiga encontrar pretextos no seu íntimo, por mais cético que seja, para
não participar da educação dos filhos, embora muitas vezes se debata com a
difícil situação de desemprego e/ou de divórcio, e, não importa como, consiga cooperar
no trabalho escolar com humildade e resiliência face ao aturado processo de aprendizagem
de qualquer indivíduo.
Pois não é a consciência individual de participação num
coletivo uma das principais aprendizagens a começar no seio familiar e a
estender-se ao ensino nas escolas através de experiências pedagógicas
especializadas que se querem formativas e diversificadas?
Rosa Duarte
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