sexta-feira, 19 de junho de 2015

aqui há gatinho...

Um gatinho amarelo, quase puma, entrou no meu quintal grandolense à espera de companhia. Era um gato muito miador. Miou, miou, miou...disse que este verão queria conhecer destinos exóticos. O olhar decidido deste gatinho era muito sonhador.

O Gato Voador
Rosa Maria Duarte
Tela, carvão, acrílicos e pastéis
50x65
Ele aninhou-se à sombra de uma laranjeira, junto ao muro branco, num recanto fresco. Já faz calor a sério no Alentejo. Ora dormitava, ora seguia-me com o olhar. De vez em quando: - R-e-nh-au, r-e-nh-au.

E eu respondia-lhe que tinha muita razão, sim senhor, que gostaria muito de ajudar, mas que não tinha como.

O raio do gato começa a olhar a profundidade do azul muito limpo e, vai daí, surge uma espécie de tapete voador a voar rasteiro e para junto dele. Sem espanto, ainda faz renhau a perguntar-me qualquer coisa, mas a minha estupefação não me permite qualquer interação. Ele lança as suas patinhas com destreza por sobre uma das franjas do dito tapete, tipo oriental, e vai, senhor do seu sonho, pelo quintal fora montado no seu sonho voador, que levanta voo junto ao portão castanho do meu quintalejo e some-se pela lezíria fora. À procura doutros Alentejos, com certeza, e de outros quintais com pessoas miadoras como eu para deslumbrar e despertar para a invenção dos dias felizes.

(in «o gato da minha aldeia», Rosa Duarte)

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