Repara: nascemos no mesmo mundo.
Gritámos juntos o nascermos nus
os sermos seres aflitos lado a lado.
Gritámos quase palavras de ordem.
Viver. Eram tantas boquinhas a gritar.
Não nos víamos, nós recém-nascidos,
queríamos de certeza qualquer coisa.
Depois soltámos mexidos anões a correr
agitar cheiinhos braços a rodar a pulular
a baixar e levantar pernas cambalhotas
caracóis loirinhos a rolar a roçar o chão
e gritinhos mais gritos sons de conquista
tontinhos a ver tudo à roda volta não volta
a gritar uns p'los outros sons livres de cor.
Gritos de nome de gente talvez bonitos a valer
que tão mal pronunciava sem saber dizer os rr.
Estou aqui a pensar: e se me desses os rr
desse nome lindo de criança que eu não consigo
ainda pronunciar direito, de tal doçura e magia?
Já não és criança? Não interessa, eu também não.
Dá-me apenas o R desse teu nome de mulher.
Rosa Maria Duarte
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