- Não achas que o amor devia chegar para fazer feliz o ser humano?
- Sim. E às vezes quase que chega... Mas até quando as pessoas se amam, medem forças umas com as outras.
- Às vezes ao ponto de se magoarem.
- Muitas vezes ao ponto de se magoarem. Todos queremos ter razão, pelas mais diversas razões. E quando alguém, que tem uma mente habilidosa, quer levar uma certa pessoa a fazer o que quer, estuda formas subtis de a condicionar e pressionar.
- Que tipos de condicionamentos?
- Eu próprio não conhecerei todos, muito provavelmente. Um dos habituais é enfraquecer o outro nos seus intentos até ceder.
- Tipo: criar-lhe inseguranças múltiplas? baixando-lhe os níveis de popularidade? confrontando-o com defeitos chatos, de preferência inflacionados? evidenciando-lhe sinais não verbais de desagrado? não o acarinhando e pelo contrário simular desinteresse e afastamento?...Mas tudo isso implica cumplicidades alheias e inverdades.
- Ah pois é!! O ser humano consegue fazer jogos psicológicos de alto requinte. E estamos só a falar de pessoas que se amam.
Alain Turing, por exemplo, que era um homem inteligentíssimo, não conseguia perceber a distorção da verdade numa simples brincadeira inocente. E pessoas como ele são alvos muito apetecíveis.
- 'Que têm a mania que são espertos...' Calculo que sim. São um ótimo reforço da questionável auto-estima dos seres humanos que se regozijam com as maldadezinhas que se fazem mutuamente quando vestem pele de cordeiro.
- O amor e a razão devem ser estimados. Só que nós, humanos, somos muito descuidados. E como todos nós falhamos, quando queremos dizer palavras de amor, sem querer começamos uma discussão, simplesmente porque não tivemos a coragem de o dizer sem rodeios e sem medos.
- Temos muita dificuldade de amar o outro como ele é. Queremos moldá-lo à imagem que idealizámos dele para nós.
- É mesmo. O que implica passar a vida neste medir de forças: ora um a fazer prevalecer a sua vontade, ora o outro. E quando assim é, menos mal. Quando é sempre o mesmo a puxar, é mesmo mau.
- Ou seja: amar não é garantia de felicidade.
- Amar é meio caminho para compreender o outro, mas o amor tem que vir apetrechado de algumas ferramentas para proteção de ambos e não causar (muitos) estragos.
- Tipo: inteligência, perspicácia, atenção, rapidez de raciocínio claro, serenidade de espírito, ponderação, generosidade, cordialidade, abnegação...?
- Tipo essas qualidades, mesmo. Essa consciência gradual pode ser que salve a Humanidade. Porque pessoas que não se amam, digladiam-se. E pessoas que se amam, ainda assim, embora a outros níveis, também se digladiam?! É por isso que o amor-paixão ou dedicação a alguém não chega; tem que ser naturalmente transformado num amor alargado a todo o ser vivente e à vida versátil do quotidiano.
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