Somos raízes a dar ocultamente as mãos. Saímos da terra para cumprimentar o sol e o céu. E até damos dois dedos de paleio contemplativo aos vizinhos dos lados, aos mais elevados, aos mais decepados, todos irmãos-raízes que merecem a solenidade de quem também aspira à solidez da eternidade.
A questão é que ansiamos aquela vida gregária que os humanos dizem querer ter, mais próxima, mais unida, mais fraterna. No meio de grãos de terra e pedras de vários tamanhos e formas, no escuro do interior telúrico, lançamos raízes ao encontro uns dos outros. Unimos os dedos longos, nodulados, seivados, sequiosos de amizade. Nem olhamos à casta ou idade dos dos dedos-raízes dos vizinhos que nos estendem. Nem que seja num subsolo o escuro de breu. Está frio e o calor amigo aquece. Quando há sede e ela aperta, o problema é sério. Mas descemos juntos ainda mais fundo, dedos dados, até ao centro duro e húmido do planeta. Somos sobreviventes e alimentamos o mundo.
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