https://diariodaregiao.pt/2017/03/19/jose-afonso-uma-forca-na-musica-da-liberdade/
Quadro a óleo em exposição na Cafetaria do Fórum Romeu Correia, em Almada |
JOSÉ
AFONSO, UMA FORÇA NA MÚSICA DA LIBERDADE
O Zeca marcou o passado, não abandonou o presente
e irá continuar no futuro. Porque o Zeca não quis fronteiras. O Zeca ajudou a derrubar
muros. O Zeca juntou multidões. O Zeca perpetuou o canto no pensamento livre.
José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos foi um
professor também para mim e nunca o conheci pessoalmente.
As suas músicas, ouvia-as ainda clandestinamente.
Mensagens, com mais ou menos metáforas, que faziam mexer o mais passivo e pensar
o mais abúlico. Trauteá-las, até sem letra, era um risco que as próprias
crianças mais inocentes corriam. Muitas sabiam-no.
Como no Centro de Férias Rogério Cardoso, em
Sintra, onde (alguns) jovens monitores nos adormeciam ao som sussurrado de músicas
como: «Dorme meu menino a estrela d’alva / já a procurei e não a vi». «Eles
comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo / E não deixam nada». «Traz um
amigo também». «Venham mais cinco».
Eu era pequeninita quando faleceu António
Salazar. Lembro-me disso, ainda que a custo. Quando o Marcelo Caetano tomou
posse, fui levemente notando que algumas pessoas iam, muito a medo, mostrando o
que pareciam ser indignações e frustrações.
Os estudantes, como o Zeca, eram dos que se recusavam
a calar o medo e a opressão. E as mais das vezes escolheram a primeira arte
para ajudar à luta - a música.
De facto, se calhar não sou a pessoa mais
indicada para falar do Zeca. Nunca falei com ele. Mas a verdade é que gosto de
falar dele e do que ele representa.
Vendo melhor, todos os cidadãos, portugueses ou
não, amantes da liberdade e da música são pessoas indicadas para falar do Zeca.
E de cantar/trautear as suas músicas.
Ou tão somente de ouvi-las cantar.
E se pudermos sentir em grupo esse gosto e esse
gesto solidário para com a Causa dos nossos Zecas, tanto melhor.
Claro que sem cultos, nem idolatrias. Apenas
apreciar o que há de melhor no legado de um cidadão interventivo e amigo como
foi Zeca Afonso. E vivê-lo unidos em festa.
Rosa Maria Duarte
Sem comentários:
Enviar um comentário