Ao longo destas vinte e cinco páginas da minha autobiografia, já deram conta, caro/as leitores/as, que a minha família mais próxima é composta por mais elementos de sexo masculino do que do feminino. Isso não é bom nem mau. É um facto.
Falo nisso porque os valores tradicionais da minha família alargada não morreram, sempre com atualizações, naturalmente.
As mulheres mais próximas, como a minha mãe e a minha avó, procuravam ser afirmativas, mas só o suficiente porque tinham consciência do seu papel no mundo patriarcal. Decidiam muito, mas não deixavam de atribuir ao marido essa decisão.
Felizmente, as sociedades criaram mais espaço de liberdade e menos sexismos. Ainda há muito para evoluir, sem dúvida alguma.
Que as mudanças nem sempre se fazem da melhor maneira, é verdade. Vão-se fazendo investidas, por tentativa e erro.
Na minha família em casa, eu sou a única mulher.
Gosto muito do meu marido e dos meus filhos. Faço tudo por eles. Mas procuro não perder o ânimo e o respeito por mim própria.
Ontem foi celebrado o Dia Internacional da Mulher. Legitimamente. Ainda há muitas mulheres maltratadas no mundo. Na sua cultura. No seio da sua família.
Eu, felizmente, não. Os meus familiares amam-me. Respeitam-me. Mas como todos os homens, têm medo de demonstrar demasiado os seus sentimentos. Sabem que as mulheres são fontes poderosas de afeto. E somos. Eu sou. Eu amo com a vida os meus. E não é preciso rebaixar ninguém para assegurarmos que tudo está nos seus lugares.
Eu sempre fui boa aluna. Dedicada ao trabalho. Ao estudo. Gosto muito de aprender. De conhecer. Sou quase insaciável, nesse aspeto. Tenho um grande encantamento por todas as linguagens artísticas. Se pudesse, desbravava muito mais...
E não só pela arte. Pela ciência. Pela espiritualidade. Pelo desporto. Pelas humanidades.
Quando conheci a Dra. Cesina Bermudes, fui conhecendo a Sociedade Teosófica de Portugal.
Eu e o meu marido começámos a frequentar um dos seus Ramos de estudo, como simpatizantes. Depois tornámo-nos sócios.
Como professora de literatura portuguesa, já conhecia a Sociedade Teosófica através do estudo de Fernando Pessoa. Foi apenas um pequeno passo.
O Carlos Guerra foi a primeira pessoa que me pediu para fazer uma palestra nas atividades públicas da secção portuguesa. Depois as Jornadas Ibéricas em que participámos foram, simplesmente, maravilhosas.
Compreendi que a nossa compreensão é ainda pequena sobre a existência humana e cósmica. Compreendi que a ciência dá passos gigantes nessa descoberta, mas que o que não vemos é muito mais ainda do que aquilo que vemos. Somos mesmo 'um bichinho da terra tão pequeno' (Camões).
E nesta minha condição humana e feminina, neste meu caminho em multiplicidade: pessoa, esposa, mãe, profissional, dona de casa, familiar, amiga...não tenho sido perfeita. Longe disso. Não fui filha única. Sempre tive que partilhar tudo com muita gente. Mas tenho procurado não perder o meu cantinho no comboio da vida. Gerir o eu e o nós que não é tarefa fácil, nem sempre inequívoca. Falhamos muito. Sobretudo aqueles que precisam de escrever autobiografias.
Aprendi a ver nos elementos do sexo masculino grandes amigos. Que muitos são. Apesar de se defenderem mutuamente. É uma lealdade que as mulheres apreciam. As pessoas de quem eu mais gosto são homens.
Mas também gosto muito de muitas mulheres: a minha mãe, a minha irmã, as minhas tias, as minhas primas, as minhas amigas, as mulheres da Teosofia, a Dra. Cesina, algumas colegas...
Ontem fiz uma homenagem a todas as mulheres, em especial à minha mãe.
Hoje faço uma homenagem a todos os homens, em especial ao meu filho Artur, que tem sido um grande pilar do nosso lar. Um grande amigo, um grande profissional, um grande padrinho do meu sobrinho Lucas.
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