segunda-feira, 27 de março de 2017

Excerto da peça «O fado da refugiada» de Rosa Maria Duarte




Anna - Olh'á castanha quentenha.  (Apregoava)

Transeunte - Ó mulher, tens tudo molhado!
                     Lá na tua terra era o que fazias?

Anna - A minha terra está destruída.
             Aqui sempre tenho travalho.

Transeunte - Dá-nos lá então uma dúzia dessas molhadas.

Anna - Senhor, eu ter aqui elas mais quentenhas.

(Mostra as castanhas na gaveta)

Transeunte - Servem-nos bem essas todas molhadas.
             Este bairro de betão é feio, mas ainda tem pessoas bonitas.

Anna - Obrigado, senhor. Eu não ter medo de trabalhar. Ter medo é da guerra e da fome.
             Ofereço a si e à sua senhora mais dous castanhas.

Casal de transeuntes - Sê bem-vinda ao nosso bairro.






«O bairro que temos»
Rosa Maria Duarte
Óleo s/tela
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