Era uma vez uma gaivota com expediente que um dia desafiou as amigas a fazer algo de útil à comunidade animal, tipo um voluntariado.
Então, decidiram ir todos os dias de manhã, quando a maré vazava num braço do Tejo para os lados da margem sul, ela e as suas companheiras limpar os aposentos de outros vizinhos animais idosos e solitários.
Encontraram um pato branco que vivia em cima de um pedaço de cortiça velha presa à margem, na Arrentela, que era o que restava de uma pobre e humilde embarcação humana.
Acontece que esse pato branco atraía as atenções dos reformados e dos confinados que lhe deixavam pão e folhas de alface ao fundo de umas escadas escuras pelo tempo, lambidas pelas humidades e algas secas.
O pato branco já conhecia algumas pessoas generosas. Logo que as avistava, lembrando um autêntico cachorro, saía a custo dos seus aposentos, pois já seria um pato cansado da idade, e cambaleante vinha aos últimos degraus tomar as suas refeições.
Ora, a gaivota e a sua equipa, comovidas, aguardavam pacientemente que o pato tomasse a sua refeição, demoradamente. Mas logo assim que este se preparava para inverter a marcha, o esquadrão de limpeza, benemérito, fazia as suas devidas obrigações e limpava escrupulosamente aquele ponto de entrega de comida ao domicílio com a dedicação que merecia um velho pato solitário de uns seres voadores dos sete mares e esfomeados.
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