UMA VIAGEM PELA FILOSOFIA
Em cada livro há uma viagem à espera de qualquer passageiro
curioso.
Os livros são viagens em viagem quando viajamos na sua
companhia. Como agora, por exemplo. Trago este comigo. E tenho sempre espaço
para mais um. Ou se não tenho, invento. São uns viageiros discretos e humildes que
se acomodam facilmente em silêncio no fundo da sacola ou na mala, ou mesmo no
bolso, no porta-luvas…viageiros resistentes sem carimbos ou estampas que narrem
os seus destinos ou circuitos turísticos. Quantos deles interessantíssimos! Contentam-se
com simples rituais de cosmética ou tatuagem como uma dedicatória cortês ou amigável
em qualquer página de rosto. Com sub-histórias privadas extra-narrativa de
momentos vividos com os seus leitores, uns quantos destes que são apenas visitantes
esporádicos, não obstante quase sempre serem humanos viajantes da imaginação. E há os que valorizam
os livros tocados por outros dedos, uns mais tímidos outros mais possessivos, ora
pingados do calor, ora sublinhados de estudo, anotados de tudo ou de nada a
ver... O livro em cada olhar como pertença individual vitalícia, mas também
como uma valiosa herança humana e partilha coletiva.
Os nossos olhos são os indagadores da mente que lê, ainda que
sejam as mãos a iniciar o ato do caminho físico em direção ao papel ou ao ecrã e
alimentam o olhar a cada virar de página.
Assim, em dias de férias como estes agora de fim de agosto, falo
por mim, quando não «fadisto», leio ou escrevo.
A degustar com avidez o Alentejo, sentada neste quintal de
letras e de cheiros, estou numa viagem filosófica em busca da ideia de
Consciência. Desta vez pela mão de Mendo Henriques e Nazaré Barros. Saúdo-os e
ao seu livro Olá, Consciência! Uma viagem
pela filosofia. Escrito, e bem, para o grande público.
É um dos que me falam de tanta coisa bonita, ao sabor do
vento suão que embala esta cama de rede. E digo a mim porque cada leitura num livro
é uma conversa única com o seu leitor. Muito do que me diz eu já sabia, mas é muito
importante porque concorda comigo em aspetos essenciais de forma clara e
assumida. Sobre a criatividade, por exemplo. Que é a criatividade que permite à
consciência atingir um patamar superior daquele das atividades fisiológicas.
Que é a criatividade que nos liberta da tirania dos factos e que transforma o ruído
em som musical, por exemplo.
Sobre a inteligência, sobre a imaginação, sobre a memória. A
inteligência que cria hipóteses. A imaginação que antecipa os acontecimentos
com outros cenários. A memória que recorre a experiências passadas para as
rentabilizar.
Às vezes parece que atenção e a consciência são o mesmo. Mas
estes professores-autores explicam bem que, de forma nenhuma, são a mesma
coisa, já que é a consciência que nos permite que estejamos atentos. Mesmo
quando não estamos a pensar, estamos conscientes. Mesmo quando estamos
distraídos, estamos conscientes. O que
sucede é que a atenção realça a realidade da consciência, intensificando um
conteúdo e fixando-nos nos atos de conhecimento (2013:33).
A filosofia é assim: uma disciplina de interpretação da vida,
pois sabe que as manipulações e os preconceitos distorcem o sentido da
realidade. É uma aliada da verdade, tão essencial para a nossa qualidade
existencial. É transversalmente vital na sociedade atual porque aceita o
desafio da aventura do conhecimento. Com dignidade.
Eu, que sou uma leiga da vida, subscrevo o que entendo inteiramente.
agosto/2014Rosa Maria Duarte
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