quinta-feira, 28 de agosto de 2014

As palavras são o lugar de conversação entre a consciência e o ser


UMA VIAGEM PELA FILOSOFIA


Em cada livro há uma viagem à espera de qualquer passageiro curioso.

Os livros são viagens em viagem quando viajamos na sua companhia. Como agora, por exemplo. Trago este comigo. E tenho sempre espaço para mais um. Ou se não tenho, invento. São uns viageiros discretos e humildes que se acomodam facilmente em silêncio no fundo da sacola ou na mala, ou mesmo no bolso, no porta-luvas…viageiros resistentes sem carimbos ou estampas que narrem os seus destinos ou circuitos turísticos. Quantos deles interessantíssimos! Contentam-se com simples rituais de cosmética ou tatuagem como uma dedicatória cortês ou amigável em qualquer página de rosto. Com sub-histórias privadas extra-narrativa de momentos vividos com os seus leitores, uns quantos destes que são apenas visitantes esporádicos, não obstante quase sempre serem humanos viajantes da imaginação. E há os que valorizam os livros tocados por outros dedos, uns mais tímidos outros mais possessivos, ora pingados do calor, ora sublinhados de estudo, anotados de tudo ou de nada a ver... O livro em cada olhar como pertença individual vitalícia, mas também como uma valiosa herança humana e partilha coletiva.

Os nossos olhos são os indagadores da mente que lê, ainda que sejam as mãos a iniciar o ato do caminho físico em direção ao papel ou ao ecrã e alimentam o olhar a cada virar de página.

Assim, em dias de férias como estes agora de fim de agosto, falo por mim, quando não «fadisto», leio ou escrevo.

A degustar com avidez o Alentejo, sentada neste quintal de letras e de cheiros, estou numa viagem filosófica em busca da ideia de Consciência. Desta vez pela mão de Mendo Henriques e Nazaré Barros. Saúdo-os e ao seu livro Olá, Consciência! Uma viagem pela filosofia. Escrito, e bem, para o grande público.

É um dos que me falam de tanta coisa bonita, ao sabor do vento suão que embala esta cama de rede. E digo a mim porque cada leitura num livro é uma conversa única com o seu leitor. Muito do que me diz eu já sabia, mas é muito importante porque concorda comigo em aspetos essenciais de forma clara e assumida. Sobre a criatividade, por exemplo. Que é a criatividade que permite à consciência atingir um patamar superior daquele das atividades fisiológicas. Que é a criatividade que nos liberta da tirania dos factos e que transforma o ruído em som musical, por exemplo.

Sobre a inteligência, sobre a imaginação, sobre a memória. A inteligência que cria hipóteses. A imaginação que antecipa os acontecimentos com outros cenários. A memória que recorre a experiências passadas para as rentabilizar.

Às vezes parece que atenção e a consciência são o mesmo. Mas estes professores-autores explicam bem que, de forma nenhuma, são a mesma coisa, já que é a consciência que nos permite que estejamos atentos. Mesmo quando não estamos a pensar, estamos conscientes. Mesmo quando estamos distraídos, estamos conscientes. O que sucede é que a atenção realça a realidade da consciência, intensificando um conteúdo e fixando-nos nos atos de conhecimento (2013:33).

A filosofia é assim: uma disciplina de interpretação da vida, pois sabe que as manipulações e os preconceitos distorcem o sentido da realidade. É uma aliada da verdade, tão essencial para a nossa qualidade existencial. É transversalmente vital na sociedade atual porque aceita o desafio da aventura do conhecimento. Com dignidade.

Eu, que sou uma leiga da vida, subscrevo o que entendo inteiramente.
                                                                                                               agosto/2014
                                                                                                          Rosa Maria Duarte

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