quarta-feira, 17 de setembro de 2014

crónica publicada no «Setúbal na Rede» e no «Diário da Região»

Educação
por Rosa Duarte
(Professora)
       http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=21836


                                    O ARRANQUE DO ANO LETIVO A 11 DE SETEMBRO
 
Este ano, a data oficial anunciada para o início do ano letivo foi entre 11 e 15 de setembro; algumas escolas iniciaram a 11 e muitas a 15 de setembro. Nada demais, pois para o calendário qualquer data é boa. Quanto mais cedo, melhor, há quem pense… Há catorze anos o dia 11 de setembro era uma data vulgaríssima. Talvez curiosa por estar a 111 dias do final do ano civil. Mas agora, mais do que qualquer lembrança ou efeito, vira-nos o olhar para o mundo de hoje, dentro e fora dos limites do país, dos continentes e, no caso, das suas escolas.

Estando eu integrada numa escola secundária, constato e tenho participado do entusiasmo geral em cada recomeço letivo que, malgrado, inevitavelmente tem alimentado o estigma do número preocupante dos professores que ficam desempregados e, também, da gradual perda de direitos dos que continuam no ativo.
 
Fora portões, os problemas escolares não se diluem, bem pelo contrário; as suas raízes duras e persistentes denunciam-se, visíveis nas famílias desestruturadas e carenciadas, na população com fracas perspetivas face ao mundo do trabalho, nos sérios problemas de inserção social e aceitação da diferença…
 
Acontece que a angústia e o desespero são potenciais inimigos da ponderação e da clareza de espírito. E esse é o 11 de setembro da atualidade.
 
Com os atentados à liberdade e à dignidade de vida das pessoas, proliferam atos de violência e de terrorismo. Somam-se testemunhos de empregados mal pagos e maltratados. De empregadores desapoiados e revoltados. De jornalistas sequestrados e até decapitados por jovens que, noutras circunstâncias, poderiam estar a aprender com esses ou com outros jornalistas experientes.
 
São graves as atuais violações dos direitos humanos.
 
As lamentáveis consequências do 11 de setembro de 2001 deveriam já ter ensinado o mundo a repudiar cabalmente a arma do terrorismo. Muitas têm sido as abordagens das causas e consequências do terrorismo em diferentes circunstâncias, expressões e suportes de comunicação de massas, e não só, com o objetivo de desenvolver o espírito coletivo inequivocamente contrário ao uso do terror psicológico e físico.
 
Afinal, o que está a falhar no processo educativo, no caso ocidental, entre os povos onde o terrorismo é condenado e, no entanto, está em crescendo? Quem foram ou são os pais, os professores e os amigos destes jovens que participam em atividades terroristas, e quem os alicia e como?
 
Estarão alguns atuais valores em vigor tão enfraquecidos por práticas de má cidadania dentro das instituições, sobretudo por parte daqueles que têm uma responsabilidade social acrescida, ao ponto de involuntariamente empurrarem certos indivíduos mais vulneráveis para o desânimo profundo e para atos contraditórios de manipulação, repressão e agressão organizados?
 
A educação é, por excelência, o antídoto do terrorismo.
 
Mas a educação não se basta a si própria. Tem sempre que ser questionada a cada passo. Refletida individualmente e em grupo. É uma obra humana que exige aperfeiçoamentos e reajustamentos constantes ou mesmo modificações profundas. Claro que as escolas nem sempre estão preparadas para o melhor modo de educar. Até porque as experiências pedagógicas precisam de tempo para darem resultados válidos. Por hábito, o ser humano reage melhor à estabilidade do conhecido do que às alterações, inovações ou reposições. A educação nunca está concluída e não pode ignorar as necessidades da comunidade e do indivíduo. É um processo em ação, se o queremos desejável.
 
E a este propósito, há dias recebi, entre outras, uma breve mensagem sobre esta problemática educacional do professor Jimenez R. José Luis, da Universidad de Santender, que citou o seu livro em preparação "Por un intento de cambio desde una educación propiá"(2013), comentando criticamente a perda de tempo no trabalho do professor com o mero recenseamento da informação aos alunos, o que condena as novas gerações à imitação e à imolação do seu crescimento pessoal, num tempo com claros sintomas de decadência cultural.
 
Em abono da verdade, muitos professores, sempre em luta pela causa educativa ao longo dos anos, têm sido mais do que meros transmissores de conhecimentos e procuram agir de modo efetivo na transformação da instituição-escola e no mundo.
 
Contudo, a sua ação só consegue desvelar-se com sério êxito quando a concertação leva à participação de todos, que só com intuitos construtivos resultam mais e melhor.




 


Rosa Duarte - 17-09-2014 09:11

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