Crónica de opinião publicada no jornal «Diário da Região»
18 de abril de 2016
Rosa Maria Duarte
O QUE É QUE FALTA?
Apesar do muito que já evoluímos,
continuamos a repensar-nos (felizmente). Continuamos a pensar, a falar, a agir
no sentido de nos melhorarmos para melhorarmos o mundo. Ou seja, continuamos a
encarar a educação do ser humano como uma atitude comunitária prioritária para
que tudo melhore em si e à sua volta.
Os Grandes Mestres da história da
humanidade foram, cada um à sua maneira, empenhados pedagogos de e para as massas.
Investiram em certos discípulos mais próximos para que os seus ensinamentos
fossem, logo que possível, gravados no tempo. Contributos que só se mantêm nos
anais da história porque os seus seguidores decidem dar-lhes vida.
Apesar do elevado número de
mestres anónimos que acreditam e lutam pela causa educativa, continuamos a recusar
os fracassos e a (re)adequar os métodos pedagógicos que visam a preparação do
ser humano para a vida, nomeadamente em sociedade.
O Homem, de facto, não é um
projeto falhado. E a educação não é um investimento em vão. É discutível a
eficácia dos seus métodos, mas é indiscutivel o potencial investimento em si, que
se sabe dinâmico e quantas vezes surpreendente.
As escolas são, à partida, boas
oficinas de educação. Mas tanto dentro como fora das escolas acontecem
situações que fazem estremecer seriamente a convicção de muitos pedagogos. Quando,
por exemplo, um ser humano manifesta vontade de magoar outro, sem razão, apenas
por prazer ou poder, e passa (e consegue passar) à ação. O que falta a esse ser
humano? O que falta à sociedade que o permite? A teoria da natureza humana pode
impor-se a uma boa educação?…
Os sistemas de ensino, bem como os
de recuperação/coerção, nas sociedades ditas desenvolvidas promovem o
cumprimento das regras sociais e procuram garantir o bem estar de todos. Um bem
estar que incluirá, ou pretenderá priorizar, o sucesso pessoal e social, entre
outros ingredientes essenciais para a experiência da felicidade.
As limitações de cada indivíduo e
das suas regras é que, volta e meia, teimam a vir ao de cima. E as
circunstâncias também nem sempre ajudam. Como no recente caso mediático que
chocou Portugal inteiro: a morte de um jovem português de 28 anos, vítima de pancadas
na cabeça no combate no Total Extreme
Fighting 1 quando lutava com o irlandês Charlie Ward. O caso está sob
investigação, mas as imagens são chocantes. Provavelmente negligência de um
árbitro com experiência que não quereria, com certeza, aquele desfecho. Muitos
desportos têm riscos, mas a finalidade é sempre fazer bem ao corpo e à mente.
Que falhas (ou brutalidades) desnecessárias são estas (já que as regras
desportivas nem sempre são inequivocamente seguras)?
A educação é o investimento certo
para mudar as atitudes e interiorizar valores, embora leve o natural tempo de
uma vida humana. De uma cultura. De uma civilização. De uma espécie.
E os consensos são apenas uma
alternativa. Não são a alternativa. Porque o importante é mesmo aprender a
respeitar valores inestimáveis como a vida humana.
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