quarta-feira, 24 de junho de 2020

O quintal do Tomé

 O moço não parava quieto. Corria de um lado para o outro, num frenesim hiperativo. Passava entre os canteiros das flores e sempre que passava por cada planta ou flor, cumprimentava-as:

- Olá rosas.

- Olá catos.

- Olá silvas.

- Olá línguas da sogra.

- Olá eras.

- Olá malmequeres.

E por aí fora. O quintal era pequeno. Mas o pequeno sentia uma grande alegria naquela repetida correria e uma grande velocidade na língua nas saudações amigas àquela natureza doméstica.

Acontece que sempre que passava junto ao estendal da roupa, tocava de propósito com a cabeça em cada peça estendida. E depois imitava um toureiro:

- Olé toalhas.

- Olé calções.

- Olé meias.

- Olé camisas.

E então era não mais acabar de olés. 

Nisto avistou uma sombra de figura humana junto ao portão envelhecido do quintal do lado de fora que depressa o desafiou:

- Olé Tomé!

O rapazito estacou os frenéticos movimentos, arregalou os olhos sorridentes e ripostou de pronto:

- Olé mano Zé! E o meu barrete olé?

- Ah, o teu barrete verde...E o meu abraço de manos? 

E fugiu.

- Estás dispensado dos abraços, por enquanto. - Sorriu-lhe.

Depois de um demorado cumprimento com cotovelos e pontas dos sapatos, o mano Zé, satisfeito, respondeu-lhe: 

- Ah o teu barrete campino...que não está esquecido, Tomé. Mas primeiro tens de ouvir a minha história do olé porque a verdade é que já não gosto de ver sofrer os nossos belos touros. Queres ouvir?







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