Educação por Rosa Duarte (Professora) O Pedro não Brinca em serviço |
Há dias admirei-me, agradavelmente, com as novas do diretor fundador do jornal "Setúbal na Rede" ao saber que, temporariamente, ia para o outro lado do mundo para abraçar um novo desafio profissional. Fiquei contente, reafirmo, mas, ao mesmo tempo, com um bichinho secreto a remexer-se cá dentro. Creio que foi o navegador quinhentista empreendedor que cada português tem dentro de si…
Hoje, mais conformada com o quotidiano sedentário, decidi homenagear, à minha fraca maneira, os 17 anos da construção e dedicação do Pedro ao "Setúbal na Rede". Ninguém me encomendou o sermão e por isso peço desculpa pela ousadia. Mas este impulso é legítimo porque é de gratidão por ter aprendido com ele boas coisas neste mundo vasto da informação. Ensinou-me e inspirou-me para o nosso RLG Reportagem. (A minha desatualizada cultura jornalística não era digital. Em tempos, eu apenas lançara o jornal escolar o "Celeiro" em suporte de papel…)
Este sentimento é, assim, também dos meus alunos e da minha equipa do jornal escolar digital, formada há cerca 2 anos a esta parte. É que o jornalismo ensinado por profissionais é mais vivo, mais real e envolvente. E os bons jornalistas fazem sempre falta no ensino pela sua seriedade e resiliência!
Agradecer, também, porque nós, professores, devemos uns aos outros, de vez em quando, uma palavra de apreço pela dedicação à carreira sinuosa e fascinante que é a docência. O jornalista Pedro Brinca foi um bom professor comunicador nos workshops e noutros encontros escolares (para além dos seus outros compromissos no Instituto Técnico e/ou outros…).
Está visto que do outro lado do mundo, o mar é bem azul e deslumbrante. E com o toké de pintas coloridas no seu timbre exótico no morno ambiente do quotidiano…muito material de inspiração, portanto.
"Há mar e mar, há ir e voltar" ou "circular é viver" são frases sugestivas ou rifões que ocorrem por reforçar qualquer coragem para o desafio, a aventura, a viagem, que apelam igualmente ao regresso. Palavras que constroem os nossos pensamentos e nos convencem a ouvir, de vez em quando, a vontade própria do momento. Sejam estas ou outras, palavras mais ou menos feitas, quantas nascem no mundo matreiro da publicidade, mas dão uma ajuda inestimável à consciência coletiva, no bom serviço à comunidade. A primeira, por exemplo, é do poeta e publicitário Alexandre O’Neill, autor do célebre poema "Gaivota", originariamente cantado por Amália Rodrigues e musicado por Alain Oulman. Amália, essa grande fadista homenageada diariamente na rádio com o seu nome.
E ainda constato, sem querer, como é fascinante o mundo das naturais cumplicidades entre o jornalismo, a literatura e a música que vivem de mãos bem próximas e irrigadas. Não como uma amizade garantida nem perfeita, mas uma joia nas suas imperfeições que confirmam o seu valor e compromisso genuínos.
São muitos os exemplos dos escritores que começam no jornalismo, experimentam a literatura e, alguns, ainda lançam olho ao mundo da música… Quantos jornalistas são especialistas, também, na área musical? E ocorre-me a tertúlia musical no Musicando, organizada pela Câmara e pelo "Setúbal na Rede", no dia 14 de setembro, na Casa da Cultura, que foi um momento agradável, com histórias e canções de vários artistas setubalenses dos anos 50 aos 90.
A escrita é a fala da música e o verbo o alimento dos jornalistas. Todos se alimentam de ritmos e se elevam a partir dos factos. Sabem sentir com as palavras no olhar e perscrutar o acontecido (in)temporal.
Escrever notícias, afinal, não é "só" rabiscar: é olhar o mundo de frente em cada horizonte.
Aprender a ver e a compreender.
Um escrevedor é um trabalhador dorido com calos de pedreiro ou golpes de sapateiro. E, insatisfeito, anda errante na vida à procura da melhor matéria-prima para preparar e partilhar. E caminhar para quebrar mais pedra…até esculpir uma simples história.
Como nos confidenciou o cronista António Lobo Antunes: foi ao fim de muitos anos de escrever que ele descobriu que não sabia escrever… Que é a natural descoberta do sábio que persiste no caminho da humildade e do desafio.
E esta conversa toda só para desejar ao Pedro um bom trabalho neste seu mais recente desafio profissional. Ficamos a aguardar novas…
Aproveitamos para saudar o novo diretor do jornal desta região que, não é por ser a nossa, mas está cada vez mais glamorosa e atenta aos desafios do futuro.
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Rosa Duarte - 15-10-2014 08:51 |
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
crónica publicada no «Setúbal na Rede» e no «Diário da Região»
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