terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Silenciar quem nasceu para cantar


PROVAVELMENTE O ANIMAL MAIS INFELIZ

Começo por pedir perdão aos produtores de galos capões. Este negócio é uma importante fonte de sobrevivência de muitos, em especial no concelho de Paços de Ferreira.

Mas será que não se pode ficar pela criação do galo não capado? É preciso sujeitar tantos bichos ao processo doloroso de lhe remover os testículos (barbilhões) entre as 6 semanas e os três meses, para perderem a crista, o canto e outros interesses?

Muitos não sobrevivem à capação e morrem.

Eu sei que sou suspeita porque não como carne. Ainda como peixe por necessidade do meu organismo. Quando, de todo, não tenho outro alimento, já me tenho visto na contingência de me socorrer do prato de carne que há. O que, em 15 anos, aconteceu raramente.

Eu sei que aprendemos na escola que somos seres omnívoros. E há profissões que exigem muito esforço físico, cuja alimentação tem que incluir um ingrediente mais substancial como a carne. O que não acontece no meu caso, nem de muita gente. Em tempos, na história, a ação militar era medida pelo ímpeto dos guerreiros. Mas em tempos que já lá vão...

Intemporal é o direito à vida. E os humanos têm que se alimentar para continuarem vivos. Mas podem perfeitamente alimentar-se com sucesso sem massacrar outros e, até, permitindo aos animais vidas e mortes indolores.

Ser um galo condenado a uma iguaria natalícia, é irónico; nem mesmo a sua carne mais tenra e gorda iliba o ato. É uma quadra de celebração do nascimento ou de morte? Qual será prioritário para o humano: o respeito ou a gulodice?

O segredo da saúde física e afetiva do ser humano passa pelo respeito pelos que são servidos à sua mesa. Este é, sem dúvida, um tópico multifacetado de ampla discussão (se pensarmos nos frangos nos aviários, nos peixes nos viveiros, na qualidade das rações…)

Parece complicado, mais é muito simples chegar à decisão de não comer carne (para além das razões comuns das dietas e da prática do naturismo). Basta imaginar vivo o animal que está esquartejado no prato. Ou pensar nos animais de estimação de cada um ou pensar concretamente naquele que está a fazer de refeição, que poderia ser em tempos (de criança, por ex.) um amigo… Para mim, quando criança, as galinhas eram, na minha imaginação, os meus cavalinhos de brincar.

As mudanças de mentalidade levam o seu tempo. «Roma e Pavia não se fizeram num dia», que é o provérbio que remonta ao império romano, precisamente ao mesmo tempo em que, segundo a lenda, o imperador-autor da lei instituiu a dita capação dos galos. E tão somente porque o não deixavam dormir.

Convenhamos, é de uma inadmissível crueldade silenciar quem nasceu para cantar!
 
 
 

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