PROVAVELMENTE O ANIMAL MAIS INFELIZ
Começo por pedir perdão aos produtores de galos capões. Este
negócio é uma importante fonte de sobrevivência de muitos, em especial no
concelho de Paços de Ferreira.
Mas será que não se pode ficar pela criação do galo não
capado? É preciso sujeitar tantos bichos ao processo doloroso de lhe remover os
testículos (barbilhões) entre as 6 semanas e os três meses, para perderem a
crista, o canto e outros interesses?
Muitos não sobrevivem à capação e morrem.
Eu sei que sou suspeita porque não como carne. Ainda como
peixe por necessidade do meu organismo. Quando, de todo, não tenho outro
alimento, já me tenho visto na contingência de me socorrer do prato de carne que há. O que,
em 15 anos, aconteceu raramente.
Eu sei que aprendemos na escola que somos seres omnívoros. E há
profissões que exigem muito esforço físico, cuja alimentação tem que incluir um
ingrediente mais substancial como a carne. O que não acontece no meu caso, nem
de muita gente. Em tempos, na história, a ação militar era medida pelo ímpeto
dos guerreiros. Mas em tempos que já lá vão...
Intemporal é o direito à vida. E os humanos têm que se
alimentar para continuarem vivos. Mas podem perfeitamente alimentar-se com
sucesso sem massacrar outros e, até, permitindo aos animais vidas e mortes indolores.
Ser um galo condenado a uma iguaria natalícia, é irónico; nem mesmo a sua carne mais tenra e gorda iliba o ato. É uma quadra de celebração do nascimento ou de morte? Qual será prioritário para o humano: o respeito ou a gulodice?
O segredo da saúde física e afetiva do ser humano passa pelo
respeito pelos que são servidos à sua mesa. Este é, sem dúvida, um
tópico multifacetado de ampla discussão (se pensarmos nos frangos nos aviários, nos peixes nos
viveiros, na qualidade das rações…)
Parece complicado, mais é muito simples chegar à decisão de
não comer carne (para além das razões comuns das dietas e da prática do
naturismo). Basta imaginar vivo o animal que está esquartejado no prato. Ou
pensar nos animais de estimação de cada um ou pensar concretamente naquele que está a fazer de
refeição, que poderia ser em tempos (de criança, por ex.) um amigo… Para mim, quando criança, as galinhas eram, na minha
imaginação, os meus cavalinhos de brincar.
As mudanças de mentalidade levam o seu tempo. «Roma e Pavia não se
fizeram num dia», que é o provérbio que remonta ao império romano, precisamente ao
mesmo tempo em que, segundo a lenda, o imperador-autor da lei instituiu a dita capação dos galos. E tão somente porque o não deixavam dormir.
Convenhamos, é
de uma inadmissível crueldade silenciar quem nasceu para cantar!
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