Ser ou não ser?
Eis
a velha questão shakesperiana sempre pertinente.
Somos
seres insatisfeitos, quais vasos comunicantes, cantantes, quando não diletantes, certo?
Talvez
cada vez mais urbanos e telecomunicativos.
Continuamos a gostar,
ainda assim, da boa cavaqueira tête a tête (malgrado os fatelas
sempiternos…)
Mesmo
quando estamos cansados de conversar, continuamos a falar na nossa
cabeça.
No
silêncio desejado, as palavras libertam-se e escrevem-se sozinhas, dentro e fora
do seu pensador. Saltam do olhar, de um gesto, do telemóvel, dum papel, do computador, dum tronco de árvore, do wc…
Não
há ruído que corte a raiz ao pensamento. Nem a careta mais idiota e cobarde,
dissimulada nas costas alheias, consegue evitar um inevitável e quiçá bom diálogo.
Desde
os tempos imemoriais que vão aparecendo uns seres humanos convencidos que podem
impor aos outros a sua tristeza. Julgar e amordaçar.
Propósitos
risíveis de pseudojustiça…
Condicionar a comunicação… Se, na realidade, nunca tal foi deveras conseguido, muito
menos alguma vez será nesta era das (tele)comunicações.
Qual
será a qualidade de interação dos autoeleitos carrascos da comunicação
controlada/vigiada?
Qual
será a qualidade ética dos seus pensamentos? Qual será a saúde emotiva
dos seus dias repetidos?
Se
somos o que pensamos, não há como uma boa ecologia mental.
É que o medo estraga a liberdade.
E ser
ladrão da alegria não compensa o crime; até a própria adrenalina seca. O que é uma seca.
Desligar a
música não dá, porque é imortal e imordaçável. No coração humano há uma saborosa tertúlia à mesa do sentimento à espera de companhia...
Será que ainda
se pode roubar a voz à vontade de cantar?
Pobre gente coitada!
Desafina o tom do próprio diapasão divino.
Roubar asfixia pela frustração o seu próprio mérito. Os ladrões nunca poderão ser pedagogos.
Assim como assim, conversar sempre ajuda a aguentar e a cantar Lisboa. E que grandes fadistagens!
Lisboa, 13 de março de 2015
Rosa Maria Duarte
Sem comentários:
Enviar um comentário