sexta-feira, 13 de março de 2015

Como é bom conversar a cantar Lisboa!


Ser ou não ser?

Eis a velha questão shakesperiana sempre pertinente.

Somos seres insatisfeitos, quais vasos comunicantes, cantantes, quando não diletantes, certo?

Talvez cada vez mais urbanos e telecomunicativos.

Continuamos a gostar, ainda assim, da boa cavaqueira tête a tête (malgrado os fatelas sempiternos…)

Mesmo quando estamos cansados de conversar, continuamos a falar na nossa cabeça.

No silêncio desejado, as palavras libertam-se e escrevem-se sozinhas, dentro e fora do seu pensador. Saltam do olhar, de um gesto, do telemóvel, dum papel, do computador, dum tronco de árvore, do wc…

Não há ruído que corte a raiz ao pensamento. Nem a careta mais idiota e cobarde, dissimulada nas costas alheias, consegue evitar um inevitável e quiçá bom diálogo.

Desde os tempos imemoriais que vão aparecendo uns seres humanos convencidos que podem impor aos outros a sua tristeza. Julgar e amordaçar.

Propósitos risíveis de pseudojustiça…

Condicionar a comunicação… Se, na realidade, nunca tal foi deveras conseguido, muito menos alguma vez será nesta era das (tele)comunicações.

Qual será a qualidade de interação dos autoeleitos carrascos da comunicação controlada/vigiada?

Qual será a qualidade ética dos seus pensamentos? Qual será a saúde emotiva dos seus dias repetidos?

Se somos o que pensamos, não há como uma boa ecologia mental.

É que o medo estraga a liberdade.

E ser ladrão da alegria não compensa o crime; até a própria adrenalina seca. O que é uma seca.
 
Desligar a música não dá, porque é imortal e imordaçável. No coração humano há uma saborosa tertúlia à mesa do sentimento à espera de companhia...

Será que ainda se pode roubar a voz à vontade de cantar?

Pobre gente coitada! Desafina o tom do próprio diapasão divino.

Roubar asfixia pela frustração o seu próprio mérito. Os ladrões nunca poderão ser pedagogos.
 
Assim como assim, conversar sempre ajuda a aguentar e a cantar Lisboa. E que grandes fadistagens!
                                                                             Lisboa, 13 de março de 2015
                                                                                   Rosa Maria Duarte
título: pormenor de Lisboa
desenho a lápis de cor, de cera e pastel
rosa maria duarte

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