- Queres pensar comigo?
- Gostava muito, mas este calor atrofia-me as ideias.
- Está, de facto, um calor fora do comum. Estas variações de temperatura repentinas dão-nos cabo da clareza de raciocínio.
- Mas fala, amigo. Para me distrair, por favor.
- Não preciso de falar do que é importante e que salta à vista como as alterações climáticas preocupantes. Nem das limitações do homem perante este e outros fenómenos. Gostava de falar contigo sobre o mar.
- Bonito. Parece que vais falar em poema.
- A vida é um poema. Nós somos pó de estrelas, água do mar, sopro divino na energia kundalini e algo mais...
- Parece que me estás a revelar a receita de Deus quando nos criou.
- Não a conheço para a enumerar. Ninguém a conhece a rigor. Ainda que nos saibamos multiplicar com mestria.
- É o riso de Deus, no seu melhor. Ele ama-nos e dá-nos vida incondicionalmente.
- É verdade. Conheces «O Riso de Deus» de António Alçada Baptista? Ele diz-nos que a letra de Deus nem sempre é decifrável e que ninguém conhece a língua em que escreveu a nossa alma. Haverá talvez nostalgia na sua obra...
- Achas? Só se Ele sente uma saudade idealizada por uns filhos virtuosos que ele desejaria que fôssemos...
- Talvez sim, talvez não. Se fôssemos perfeitos, Deus não precisaria de pôr à nossa disposição o livre arbítrio. Pelos vistos, faz parte do seu propósito pôr-nos à prova para nos ajudar a perceber melhor a nossa centelha divina.
- Achas mesmo que temos uma centelha divina? Então quer dizer que todos nós seremos um dia, necessariamente, muito mais do que somos hoje.
- Eu acredito que sim. Cada um a seu ritmo, naturalmente. É que somos um céu num mar imenso de beleza, alimento e vida.
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