- Mais um dia de chuvinha.
- É verdade, amigo. Um dia bom para parar um pouco e dar atenção ao que se passa à nossa volta.
- Achas que normalmente não damos?
- O que é que tu achas? Hoje é um dia (como outro qualquer, é certo) que apela ao nosso sentimento, uma quase vontade: ou de dançar à chuva ou de ficar em silêncio a olhar um livro em especial na estante, ou ver a chuva a escorrer na vidraça, ou a olharmo-nos demoradamente ao espelho, ou a identificar os sons mais próximos e os mais afastados de nós…
- Ou de conversar, quase em surdina, com um amigo, quase com medo de afastar a serenidade do momento…
- (Sorriso) E com a cumplicidade da chegada da noite cinzenta e fria que empresta ao céu um véu semiescuro e crepuscular que alimenta a nossa melancolia portuguesa ou mesmo transnacional.
- És um poeta, meu velho.
- A nossa alma é uma poetisa que clama por calor em noites frias. Também de aquecimento caseiro, mas sobretudo de gestos naturais de afeto e palavras sinceras de cortesia e comprometimento com a vida.
- E o nosso corpo? Enquanto estamos vivos, temos que o respeitar.
- Claro que sim. Se a nossa alma se encontra bem, o nosso corpo agradece. E o contrário também é verdade. O corpo só está bem quando as suas emoções, sentimentos, pensamentos, consciência vão ganhando o seu lugar na construção do projeto humano.
- Então e o envelhecimento e as doenças?
- Nós somos (apenas) natureza. Uma natureza em potencial, pensante. Mas há leis que não nos cabe a nós redigi-las. Somos livres, quando conseguimos de facto sê-lo, para sermos responsáveis pelo mundo em que vivemos.
- Então a nossa alma acaba sempre por se despedir do seu corpo, um dia.
- A alma eleva-se. O corpo funde-se com o ambiente, que tanto devemos respeitar!
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