domingo, 3 de novembro de 2024
«O pescador é um homem pequeno, com rugas fundas como caminhos dolorosos, poros abertos. Os dedos duros como raízes molhadas. A barba por fazer. Ele aguarda na quietude do fim da tarde cinzenta. Todos os seus órgãos pulsam, sem se deixarem ver. Algo mexe na água e ele suspende a respiração. Aquieta o som do coração e todo o baque alterado. Até alguma lágrima inconveniente. Setenta anos passados. Sentado sobre a tábua tosca do barquito cor de cepo velho, o panamá na cabeça e as mãos presas à cana de pesca, começa a receber desprendidamente os puxões que vêm da água...»
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