sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

publicado no nº 788 do Setúbal na Rede


EM DEFESA DO ENSINO PÚBLICO PORTUGUÊS

 

Porque é importante debater. Também rebater. Embater contra certas ideias de tornar privado o que é de todos e para todos. Como a saúde. Com ela não se brinca. E a saúde do estado social da nação está a ser fortemente descuidada. Os seus pilares basilares podem abater-se a qualquer momento sobre as nossas cabeças. As nossas mentes. À vista de todos. Tentados por certos intentos economicistas. A derrocada de educação pública. Que não é mercantilizável, nem mesmo sob pretexto da maior crise financeira. É que sem valores éticos amplamente transversais no ensino, não há política nem economia verdadeiramente sérias.

Decerto ainda não se esgotaram os necessários esclarecimentos, a concertação de novas posições e as consequentes contribuições. Comentários e sugestões. Novas políticas democráticas alternativas. Nada menos se quer e se anseia que, debalde modestos, luminosos rasgos de consciência comunitária, nacional e europeia.

No princípio foi o verbo. Criador, ao celebrar a declaração dos direitos universais do homem. Com educação para todos. Mais tarde, o alargamento da escolaridade obrigatória, hoje até ao 12º ano. Garantida pela gratuitidade da educação. Sem propinas. Já não é mau. Entretanto com exigências de mais habilitações. Um curso superior para fazer face ao mercado especializado e competitivo. Um ensino superior reconhecidamente de qualidade por todos e imprescindível ao desafio das sociedades atuais. Embora não acessível a todos. É indiscutível a visceral defesa popular pela escola pública. Porque a educação nos move e nos demove de quaisquer pensamentos exclusivistas ou estatutários. É superior a qualquer cor política ou projeto económico. Em prol do bem-estar de qualquer a nação. É um sentimento maior porque é apolítico e transnacional. Que ao longo da sua história se tem justificado por si mesmo. Não deveria de precisar quem o justificasse. Já se sabe que não estão obviamente só em causa os saberes disciplinares, académicos, mas igualmente as competências sociais, reflexivas, críticas, criativas, a autonomia… Uma diversidade de valências essenciais à boa formação de qualquer ser humano. De mim própria, de um filho, de um vizinho, de um transeunte, de um funcionário de qualquer serviço…Um ensino para quem a qualidade tem vindo a desenvolver-se numa consequente adaptação às exigências e à própria internacionalização. As universidades públicas correndo alguns riscos de asfixia com o atual orçamento. Apesar das receitas que, contas feitas e divulgadas, as eleva ao terceiro país da Europa com um ensino superior de propinas mais caras. Malgrado as liberalizadas. O Estado português é pobre. Pois será… é pena. Podia não ser… Mas mais são os alunos, que têm vindo a desistir cada vez mais de estudar, devido a esses custos incomportáveis.

É um sério problema para o todo o estado da nação. Estas gerações têm que estar bem preparadas para se afirmarem num mercado de trabalho nacional e europeu que os acolhe e rentabiliza à escala da sua capacidade. E a saúde de uma nação avalia-se pelo índice da sua capacidade empregadora. As instituições escolares e universitárias a trabalharem cada vez mais, com cada vez menos recursos. Sempre dinâmicas e atentas ao fenómeno da globalização. Resilientes e lutadoras pela Causa. E, no meio disto tudo, alguns pais esperançosos por protocolos celebrados entre os meios académicos e as entidades empregadoras. Um patamar que “tem muito que se lhe diga”, segundo palavras sentidas e contidas do Reitor da Universidade de Lisboa. Conscientes de que: “Aprendemos a voar como pássaros e a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos.” (Martin Luther King)

Como ambicionar o desenvolvimento das qualidades humanas e suas competências essenciais nas mais distintas funções, nomeadamente na governação, se se permitir a derrocada do ensino plural, vital à sobrevivência da democracia e da sua construção?

                                                                          Laranjeiro, 22 de janeiro de 2013

                                                                                             Rosa Duarte
 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário