O CONDOMÍNIO DA RUA
Há dias fui ver e gostei. O
Condomínio da Rua. No Teatro Dona Maria II. À quinta feira. Pois… agora tem
que ser, não é…
Quase, mas só quase, a sentir crescer uma leve tentação de
experimentar o sem-abriguismo. Romper as peias do socialmente correto. Em
especial aquele verniz que esconde o melhor de cada um, ou o execrável… Uma
coragem tipo a da intelectual da peça. Que se sentiu só e esquecida no seu próprio
meio. Sobejamente cómodo e civilizado. E com tanta mendicância! Talvez a mais difícil
de erradicar. Com miríades de redes sociais para criar pseudo-amigos… e auscultar
o grau de popularidade. Daquela que se fantasia no reino da idealização, se boicota
ou se combina conforme a camisola, a cor da foto e as influências. E a qualquer
momento, zás, se desmorona ao primeiro olhar inédito e infunde a autista necessidade
do socialmente massificado.
A proposta é arriscar descoser galões. Os círculos sufocados.
Grupos e grupinhos. Galos e galinhas. Então com regimes mais do que vegetarianos.
É a verdadeira prática do jejum. Com micróbios e cheiros retardados, nauseabundos…
Mas entregar-se a um céu aberto, de alma a entreabrir-se, a desatinar com o autêntico
despojamento imperial, sem likes nem
lisonjas convenientes, a não gostar sem rodeios e afetações imitadas e a ter,
pasme-se a ironia do destino, pensamentos tribalistas, ao dividir o chão imundo
de um armazém moribundo e um iogurte retardado.
A conhecida escola da rua. Sem regalias ou reformas. Tudo verdadeiramente
gratuito. Ou talvez não completamente… Vizinha da outra, a nossa instituída, embora
ainda mais mal-amada de paixões governativas.
Contudo, ambas receosas de ações de despejo ou, mais doentio
ainda, de condomínios fechados de ideias e de cooperação.
Lisboa,
15 de fevereiro de 2013
Rosa Duarte
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