O 25 DE ABRIL NAS
ESCOLAS
A data do dia 25 de abril, acontecida há 40 anos, e preparada
em função do plano militar para a democracia portuguesa, resultou genial. Não
apenas pelas suas vitais mudanças e consequente repercussão internacional, em países
da Europa Central, África, Ásia…, mas até plasticamente falando porque se
aproximou dos motivos das comemorações ligadas ao Dia da Árvore, da Primavera,
da Poesia, como o símbolo do vermelho do cravo e da papoila, o branco da
gaivota e da pomba, o amarelo da vila morena do alentejano, ou ainda a bandeira
vermelha e verde da luta e dos campos da esperança. Um povo dos quatros cantos
do mundo que se emancipou, cujo símbolo central é a esfera armilar do
minicosmos da sua astronomia e navegação.
Ao longo de quatro décadas, a ideia da revolução ideológica e
política algo fraquejou, mas não morreu e continua a dar vigor à palavra, à
música, à cultura, à emergência de uma nova consciência social. O sangue do
cravo é vida e dá paz às balas em flor nos canos das espingardas no Largo
do Carmo, que se recusam a cansaços da sua temporalidade.
O próprio calendário escolar se regozija, anualmente, com o final
do mês de abril por ser um bom momento (o início do último período letivo) para
a animação da Semana da Escola ou dos Dias do Agrupamento. Organizadas
habitualmente no âmbito dos diferentes departamentos disciplinares, este ano as
atividades versaram o lema dos 40 anos de abril. Recordou-se o que foi a
censura salazarista, os livros censurados, os 80% da atual população portuguesa
que defende o 25 de abril, a educação para todos, o direito ao voto, o
progresso e as condições de vida, a descolonização e processo de independência…isto
para que ninguém possa duvidar da sua importância histórica e continuada da sua
existência, mesmo em difícil conjuntura económica, política e social como a que
vivemos.
Sou filha da democracia, não do ano de 74, mas da geração de
60. Com dez anos, recebi todo um legado cívico, ético, político-partidário e
uma multiculturalidade sem igual. Como qualquer criança curiosa é capaz de
receber. Tive o privilégio de nascer e viver numa época de excelência da nossa vivência
nacional e de ter morado numa zona de operariado com séria atitude bairrista de
árduo trabalho, polo de indústria e comércio como o de Alcântara, onde cedo
contactei com a coragem antifascista e os sacrifícios das gentes do povo.
Os melhores anos da minha vida passei-os a ouvir falar das
Grandes Causas, a conhecer outros livros que chegavam, a conhecer professores
vanguardistas, como os da Faculdade de Letras: Mário Dionísio, David Mourão
Ferreira, Urbano Tavares Rodrigues, Eduardo Prado Coelho…. a participar em
tertúlias literárias, a colaborar em círculos juvenis de cultura, a organizar
eventos culturais, produzir folhetos e coletâneas literárias…
Hoje, apesar do visível desencanto de algumas conquistas adiadas
da revolução, como os cinco mil alunos com aulas ainda em contentores, sabemos
que a vontade coletiva continua a sair à rua, mais instruída e atenta, sabendo que
a revolução humana se faz no quotidiano de cada um e pode, embora não deva, ganhar
contornos imparáveis como a do grupo anonymous...
A rua será sempre a genuína escola da Revolução. E o
pensamento a morada da sabedoria. Há que aprender a pensar para saber agir,
todos como um todo.
Sabendo que não há maior prisão antifascista do que a
ignorância, o egoísmo e o medo.
Lisboa, 25 de abril de 2014
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