quarta-feira, 30 de abril de 2014

25 de abril, sempre!


O 25 DE ABRIL NAS ESCOLAS

 

A data do dia 25 de abril, acontecida há 40 anos, e preparada em função do plano militar para a democracia portuguesa, resultou genial. Não apenas pelas suas vitais mudanças e consequente repercussão internacional, em países da Europa Central, África, Ásia…, mas até plasticamente falando porque se aproximou dos motivos das comemorações ligadas ao Dia da Árvore, da Primavera, da Poesia, como o símbolo do vermelho do cravo e da papoila, o branco da gaivota e da pomba, o amarelo da vila morena do alentejano, ou ainda a bandeira vermelha e verde da luta e dos campos da esperança. Um povo dos quatros cantos do mundo que se emancipou, cujo símbolo central é a esfera armilar do minicosmos da sua astronomia e navegação.

Ao longo de quatro décadas, a ideia da revolução ideológica e política algo fraquejou, mas não morreu e continua a dar vigor à palavra, à música, à cultura, à emergência de uma nova consciência social. O sangue do cravo é vida e dá paz às balas em flor nos canos das espingardas no Largo do Carmo, que se recusam a cansaços da sua temporalidade.

O próprio calendário escolar se regozija, anualmente, com o final do mês de abril por ser um bom momento (o início do último período letivo) para a animação da Semana da Escola ou dos Dias do Agrupamento. Organizadas habitualmente no âmbito dos diferentes departamentos disciplinares, este ano as atividades versaram o lema dos 40 anos de abril. Recordou-se o que foi a censura salazarista, os livros censurados, os 80% da atual população portuguesa que defende o 25 de abril, a educação para todos, o direito ao voto, o progresso e as condições de vida, a descolonização e processo de independência…isto para que ninguém possa duvidar da sua importância histórica e continuada da sua existência, mesmo em difícil conjuntura económica, política e social como a que vivemos.

Sou filha da democracia, não do ano de 74, mas da geração de 60. Com dez anos, recebi todo um legado cívico, ético, político-partidário e uma multiculturalidade sem igual. Como qualquer criança curiosa é capaz de receber. Tive o privilégio de nascer e viver numa época de excelência da nossa vivência nacional e de ter morado numa zona de operariado com séria atitude bairrista de árduo trabalho, polo de indústria e comércio como o de Alcântara, onde cedo contactei com a coragem antifascista e os sacrifícios das gentes do povo.

Os melhores anos da minha vida passei-os a ouvir falar das Grandes Causas, a conhecer outros livros que chegavam, a conhecer professores vanguardistas, como os da Faculdade de Letras: Mário Dionísio, David Mourão Ferreira, Urbano Tavares Rodrigues, Eduardo Prado Coelho…. a participar em tertúlias literárias, a colaborar em círculos juvenis de cultura, a organizar eventos culturais, produzir folhetos e coletâneas literárias…

Hoje, apesar do visível desencanto de algumas conquistas adiadas da revolução, como os cinco mil alunos com aulas ainda em contentores, sabemos que a vontade coletiva continua a sair à rua, mais instruída e atenta, sabendo que a revolução humana se faz no quotidiano de cada um e pode, embora não deva, ganhar contornos imparáveis como a do grupo anonymous...

A rua será sempre a genuína escola da Revolução. E o pensamento a morada da sabedoria. Há que aprender a pensar para saber agir, todos como um todo.

Sabendo que não há maior prisão antifascista do que a ignorância, o egoísmo e o medo.
 
                                                                          Lisboa, 25 de abril de 2014
                                                                              
 Rosa Maria Duarte

 

 

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