Dia de Reis
Enquanto passeavam os três reis magos nas ruas da Moita, em Sesimbra e outras mais localidades, uma montra cheia de doçaria na baixa de Corroios refulgiu e remexeu-me com este simples pensamento: a quem é que saiu a fava neste dia de reis do ano de 2019 nos muitos belos bolos-reis de aquém e além-mar, nosso Tejo, Sado e afins?
Vai na volta (e passa a outro e não ao mesmo), é então isso: sai sempre ao Zé povinho. Toca a pagar.
Mas temos um bom tesoureiro: quem elegemos, pois está visto. E é com este nosso espírito coletivo da ‘coisa pública’ que vamos sobrevivendo com trocados num bolso cheio de direitos e deveres.
Porque a romântica monarquia, só a queremos nos bolos e nas dinastias da História de Portugal.
O bolo-rei, esse, convém que esteja coroado e a gosto, com os ingredientes q.b. do costume. E para quem não gosta muito do dito majestoso mais convencional, a monarquia liberal ainda oferece outras opções: o bolo-rainha, o bolo-príncipe. Até ao momento.
Enfim, uma família real pasteleira que serve o propósito de lembrar os senhores da história sobre o encantamento natalício, cheio de generosidade e presentes perfumados, valiosos e espirituais à medida, como é de muita cortesia humana: o incenso, o ouro e a mirra. Que para o divino menino, nada menos. Porque a desejada divina fraternidade só alguns de nós vai, de facto, tocando...
E se da monarquia ainda falamos por cá, é especialmente daquela com reis sem coroa. Reis de consagração e com alguma discussão: o rei da luz, o manda-chuva, o rei do rock, o rei do fado, o rei do gado, o rei da selva, o rei do tacho, o rei dos mares, o rei da bola, o rei do sapateado e do manguito...
Um Zé Povinho que ainda não está cansado de fletir o braço. E assim que há qualquer coisa a chatear: - Toma lá!
Porque o Zé Povinho é amigo do seu amigo e acha que (ainda) há muito para acertar. Vai à escola e já sabe o que é uma vida digna.
O Zé Povinho é bom aluno e já aprendeu o que é a democracia.
Gosta da bola, mas também do amor ao próximo e do progresso.
E põe-se à conversa, é certo, na brincadeira e na caricatura política.
Agora coroas, só se forem de bom metal e sem espinhos.
Rosa Duarte
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