Já vês que sou mulher
e pesas um bom bocado
ó pensamento-pássaro
nesta mente a crescer
voas e pousas e voas
a cada segundo minuto
és talvez assim como eu
irrequieto no descobrir
sentado em cada cabeça
romântico no olhar
sentido no cantar
modesto no pentear
poderoso no querer
silencioso no chorar
ruidoso no sorrir
amoroso no partilhar.
Vem pensar comigo
ó pensamento-pássaro
ó mulher-pensamento
quero também pensar
neste mundo pouco unido.
Vou regar ainda hoje
a terra castanha verde
um encontro perfumado
com pétalas em network
a pintar o nosso quintal
da cor dos nossos lábios
tão rubros de felicidade.
Vejo o reflexo de ti
no meu olhar intenso
tens palavras para mim
cheias de luz brilhantes.
Sentemo-nos nesta poça
de água a ler teus poemas
também memórias frescas
nossas vivências a acontecer...
Pareces tão sossegada
não tens vento ou neve
o sol adormece no horizonte
ainda te aquece os ramos
as formigas fazem-te cócegas
o penteado fica-te mais leve
agulhas de quem cose o destino
é o verde e o azul a brincar
junto à estrada esbranquiçada do céu
mas tudo em ti é seiva é tempo
falas aos pássaros aos humanos
ficas despida, árvore-gente, quando
muitos se ausentam ou ficam
à lareira a queimar o teu perfume.
Pinta-me ó tempo
um azul forte no céu
da aldeia que é o mundo
se quiseres põe-lhe luzes
olhinhos de casario
estrelas da nossa rua
gente que chega a casa
conversa sobre o fim do dia
sente a chuva a cair
e mesmo assim abre a janela
para ver o desenho das nuvens
o contraluz do recorte da serra
respira o perfume dos escuros
pinheiros molhados a terra o outono
e se enternece com a beleza
da mãe-natureza e das povoações.
Sorri a suas irmãs nuvens
contempla elevado o universo
livre de coisas e bolsões
só sandálias couro simples
ou descalço despojado
sem anéis farpelas caras
braços alçados para o céu
olha tudo com amor
flores estrelas ovelhinhas
lobos insetos e ervinhas
pessoas solo sol planetas
um coração cheio de paz
um amigo sem exceção.
