quinta-feira, 8 de novembro de 2012

a língua que nos une


O ANO DE PORTUGAL NO BRASIL E O ANO DO BRASIL EM PORTUGAL

“A língua que nos une, também pode ser a língua que nos separa” foi uma das frases proferidas pela jornalista Leonor Xavier, no salão nobre do Teatro Dona Maria II, dia 6 último. Deu alguns exemplos. A palavra canalizador é, para nós, aquele que repara a canalização, mas para o carioca do Rio de Janeiro é um bombeiro. E outros... E com palavras citou João Cabral: “Nós com 20 palavras fazíamos um poema.”

Com graça própria e simplicidade experimentada, Leonor, também escritora, lembrou alguns grandes nomes de portugueses e brasileiros ligados pela cumplicidade fraterna luso-brasileira: Agostinho da Silva (que chegou a entrevistar), António Alçada Baptista, Milô Fernandes, Vitorino Nemésio (e o seu Violão do Morro)…

Já Arnaldo Saraiva, professor emérito do Porto, falou das suas origens serranas, do seu primeiro contacto com o português do Brasil quando um professor lhe pediu para cantar e encantar com tal pronúncia melodiosa. E d’ A Flor e A Náusea de Carlos Drummond de Andrade que o converteu definitivamente à cultura brasileira. Para ele, todo o português devia de ser brasileiro e todo o brasileiro devia de ser português. E lembrou Manuel Bandeira no Português meu avozinho que fui, à socapa, bisbilhotar e maravilhei-me. Falou do António Cândido e da metáfora do arco-íris. E do Brasil que foi a maior invenção dos portugueses. Naquilo que de bom lhes levámos. E recebemos!

As relações entre Portugal e o Brasil, diz, são automáticas. Deviam de ser mais ponderadas. Está bem que as telenovelas nos aproximaram muito deles. Mas ninguém, no Brasil, conhece telenovelas portuguesas. Parece que só interessam as relações comerciais… Da literatura portuguesa no Brasil, conhecem os clássicos, Eça de Queirós…, da atualidade: José Cardoso Pires, Inês Pedrosa, Gonçalo M. Tavares e pouco mais… A Carminho lá vai ao Brasil…Lembrei-me da Eugénia Melo e Castro…

As instituições universitárias ainda vão estreitando um pouco mais a distância. Continua. Com, por exemplo, Cleonice Berardinelli, por quem, eu própria, tenho muita estima, porque a conheci pessoalmente e me vem inspirando. Mas pouco mais. Não temos a prática do protocolo. E, quase de propósito, entrou naquele momento o embaixador do Brasil em Portugal. Ao qual foi feita uma saudação oficial.

Leonor continuou. Os códigos de conduta entre os dois povos ainda trazem muita convulsão. A história do Brasil e de Portugal tem sido feita para contar. Faz-se boca a boca. E recorda Raul Solnado que dizia que haveria sempre algo em comum entre os portugueses e os brasileiros: os nossos avós.

Hoje vamos também acordando a passo e passo a ortografia ao compasso da fonética. Não é mesmo?!

                                                                  Encontros Garrett, 6 de novembro de 2012

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