segunda-feira, 18 de maio de 2015

José Cardoso Pires e o fado

Um dos livros que mais me inspirou de José Cardoso Pires foi o Alexandra Alpha. É a Lisboa que eu conheci dos anos 70/80.

Segundo a nota do autor datada de 1987 no início da obra, Alexandra Alpha é uma personagem extraída da vida real que faleceu a 14 de novembro de 1976. Esta Alexandra deixou escritos: uma comunicação sobre Identité Sociale et Marketing, publicada nas atas do II Simpósio Internacional de Publicidade, Lausanne, 1970; um esboço de tradução do Journal of Voyage to Lisbon, de Fielding; alguns breves apontamentos de leitura; várias notas pessoais gravadas em fita magnética, papéis que se encontram nos arquivos do 10º cartório notarial de Beja.

A Lisboa de JCP é uma Lisboa castiça (à semelhança da Alcântara onde nasci e cresci, com a tasca do careca, o «Timpanas», varinas, cauteleiros, limpa-chaminés, operários, amoladores, bêbados fadistas...):

""Para comprovar tais desgraças os bêbados exemplificavam com o mudo ali presente, o qual teria muito para contar se não tivesse saído das mãos dos ditos doutores malignos no estado que se via. Pormenor a considerar, o padacente, cauteleiro de profissão, era filho daquele bairro e antes do tumor que o havia de calar tinha uma voz para o fado como poucos e nenhum. Para o fado, quer-se dizer, para artista da canção nacional, elucidaram os bêbados batendo com dois dedos nas goelas, compreende o monsiú?" (PIRES, 1997:112)

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