terça-feira, 26 de maio de 2015

retrato da minha Alcântara por José Cardoso Pires

"Bairro pobre (Alcântara? Madragoa?) a Mana em pequenina na sua colmeia de vizinhos: «nas noites de calor trazíamos cadeiras para a rua e todo o bairro ficava a ouvir telefonia à porta de casa», fados, naturalmente, que é que aquela gente ouvia senão fado? As lembranças chegavam-lhe em clarões baços, desgarrados. O pai, que seria e ainda era cabo da Guarda Republicana ou sargento auxiliar; a mãe, costureira ao pedal, sempre a sacudir-se dos retalhos e dos alinhaves, isto o que era? Passado. Infância. Pequenina e decidida, era como se tivesse saído descarnada desses anos e não lhes desse perdão." (PIRES, 1998:298)

Até no sacudir dos alinhaves, é a minha mãe retratada. E, ai do mano que falasse áspero à mãe, saltava-lhe tudo em cima. A matriarca era para respeitar. O pai da marinha mercante, muitas vezes ausente, não deixava que isso acontecesse.

Era esta a existência simples e sentimental dos bairros alfacinhas.
Da varanda do 2º andar, sentada com as pernitas a dar de fora do gradeamento retorcido pintado de verde seco, via os ciprestes do cemitério dos Prazeres e dizia que era a Vide, a aldeia beirã onde passava e passo as férias de Verão, com os seus pinheiros altos em contraluz noturna. Um espetáculo celeste lindíssimo!

Os pinheiros
Rosa Maria Duarte
Tela, carvão, acrílicos, pastéis
24x30

O fado na literatura e na pintura. Na Lisboa de Cardoso Pires. Ao pedal de uma máquina de costura.

As mães domésticas e não domésticas. Todas as mães são mulheres e toda a mulher é para respeitar e acarinhar. Sejam elas mais ou menos sorridentes. E sorrir faz bem à alma. Não acham, meus senhores?

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