Já não é a primeira vez que o meu marido diz que sou uma boa esposa e que o tenho ajudado muito. E eu acho que sim, apesar de tudo (embora não goste muito de o demonstrar...).
Sou uma mulher de carreira do pós-25 de abril, com interesses diversos (ainda), cujo topo das minhas prioridades é a família.
Tenho ajudado muito, mas se tenho cuidado das minhas necessidades, é para não deixar de reconhecer a minha identidade.
A mente humana tem agilidades que podem ultrapassar os padrões normais. Somos muito plásticos, para o bem e não só.
E é nossa obrigação sobreviver o mais possível.
Às vezes os animais de estimação ocupam um lugar no lar que ajuda à rotina mental das pessoas, quantas vezes indisciplinada. Há pessoas que se deixam invadir por todo o tipo de pensamentos e depois têm dificuldade em lidar com os diferentes sentimentos e emoções que daí resultam.
Uns por pessimismo, outros por vitimização, outros por negação...
Se me tivesse que catalogar numa destas categorias, dir-me-ia ainda otimista. Eu gosto de acreditar em mim, de acreditar nos outros, de acreditar no mundo à minha volta.
Mas à medida que vivo, menos chocante é o meu processo de adaptação e de intervenção. Que há-de estar em construção até ao final da minha vida.
Porque me considero poetisa. E os poetas pensadores têm uma filosofia sempre em aberto que sustenta as suas indagações e muitos olhares de lucidez. Também tenho o outro lado jornalista e de investigadora, de objetividade e insenção, que vai equilibrando a subjetividade interpretativa dos factos que enfrento no dia-a-dia.
Gostei muito de ter acolhido o nosso cocker spaniel. Podíamos ter feito melhor, mas acho que o nosso Adamastor gostou da vida que teve connosco.
Todos os projetos que tenho abraçado, que não são muitos, têm sido pensados, dentro do possível, em termos coletivos. E continuo a querer pensar assim, com mais ou menos apoio, com mais ou menos compreensão dos que estão próximos ou afastados.
Se calhar, quando temos que nos esforçar mais para nos fazermos entender, o que fazemos ganha maior ascendente no princípio criador que rege tudo. Tenho beneficiado com isso, acho.
Esta é a página nº 31 de uma pretensa autobiografia que, se estou estou a escrevê-la, não sem algum embaraço, é por motivos sérios e não ignoráveis.
31 são também os anos do projeto familiar que iniciámos.
Com o crepúsculo a entrever-se à janela, despeço-me com palavras breves de silêncio.
Sem comentários:
Enviar um comentário