No dia 1 de maio os animais deixam de ser ‘coisas’
Todos nós gostamos de animais.
Não conheço ninguém que não goste de animais. Pode haver preferências de
espécies. Pode haver alguma(s) espécie(s) não grata(s). Mas creio que não há
ninguém que as rejeite integralmente a todas, com certeza.
Circula por vezes a convicção de
que são mais fiáveis os animais do que as pessoas. Atitude que será
possivelmente mais vinda de um patamar de desabafo que verdadeira convicção, e
talvez fruto temporário da desilusão ou do desânimo.
“Quanto mais conheço as pessoas,
mais gosto dos animais”. É a famosa frase-feita dita com (alguma) tristeza que
não anima quem ouve, nem quem a profere e, penso, nem faz justiça aos animais,
sobretudo àqueles que têm os humanos em boa conta.
O projeto-sociedade, com mais ou
menos globalização, está a atravessar (mais um) um período conturbado. Muito
conturbado. Como tantos ao longo da sua história, é certo. Mas atualmente especialmente
em relação às migrações exponenciais. Aos violentos choques culturais,
políticos, religiosos. Às graves carências e agressões globalizadas. Às
explorações, escravizações e subaproveitamentos do trabalho mais e menos especializado.
Persistentes crises profundas de valores. Problemas recorrentes de diálogo,
comunicação e de solidariedade à escala mundial. Depressões e doenças resultantes
do meio ambiente. Cultos do materialismo competitivo e da banalização dos sonhos
destroçados.
O Homem procura a amizade do
animal para se recobrar.
Porque na relação com os animais,
o Homem protege-se e naturalmente não alimenta (as mesmas) expectativas em
relação ao outro.
O outro que dentro em breve são
também os animais. É já a partir de dia 1 de maio que os animais passam a ter direitos
próprios consagrados na lei.
Assim, os animais resfriam (de
certa forma) a escalada de exigência e ambição humanas em relação ao alheio.
Os humanos na sua relação com os
animais põem (mais) de lado o seu caráter competitivo: ou estimam-nos. Ou comem-nos.
Ou descarregam neles as suas indisposições. Ou mantêm-nos à distância. Mas não
vivem na permanente angústia do jogo competitivo da dominância e/ou de estar à
espera do milagre da mudança do outro à sua imagem e semelhança.
A indiscutível fidelidade e/ou
lealdade que o Homem espera do seu próximo, vive sendo relativizada a cada
passo no decurso da sua relação interpessoal. O Homem social sabe que as
alternativas não são muitas: ou escolhe a via da solidão, ou a da aceitação/conformação
ou, preferencialmente, a da esperança num amanhã melhor, aquela de olhar o
outro (e a si mesmo) na esperança de ver sinais de um homem novo a cada dia que
passa.
Eu também gosto de animais.
Praticamente de todas as espécies. Há insetos, sobretudo rastejantes, que me
fazem recuar. Mas procuro, dentro do possível e do razoável, respeitá-los.
Porque sei que só respeitando-nos
conseguimos respeitar qualquer outro ser vivente.
Porque tão simplesmente é uma
questão de boa vizinhança.
Rosa Maria Duarte
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