segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Alguém esfrega as mãos junto ao fogão...

...é a minha mãe a vestir de farinha os filetes de pescada para o jantar. Vai fritá-los. Já cheira a arroz de tomate.
Da janela, vê-se que o tempo continua húmido e frio. Os vidros estão embaciados. Na cozinha deste lado da casa está um calor acolhedor que vem do fogão.
É dezembro. A árvore de Natal e o presépio já estão expostos junto à varanda do outro lado da casa, na sala de jantar. Fazemos chegar as luzes de Natal ao teto de palhinha do curral onde o menino Jesus está deitado. Chamamos os pais. Está lindo, sim senhor.
Desliga-se o candeeiro de teto da sala para ver cintilar a árvore de Natal e o interior da cabana da família sagrada. Calamo-nos porque ficamos deslumbrados com aquele colorido cheio de reflexos e cintilações. Não nos mexemos.
Cheira a pinho e a cera. É da vela de centro que entretanto se acendeu.
A minha mãe regressa aos afazeres. Ao fundo do corredor comprido, entre a sala de jantar e a cozinha, há agora barulho de loiça e de alumínios. Ouvem-se vozes.
Fico entretanto sozinha na sala de jantar numa penumbra colorida e irrequieta.
Sento-me no sofã. Mal me sinto pensar. Estou hipnotizada por aquelas figuras do presépio tão graciosas. 
Instantes depois, ponho-me a imaginar os momentos vividos por cada uma daquelas personagens no tempo em que a estrela mais brilhante orientou as caminhantes até àquele bebé tão acarinhado por ovelhinhas brancas, lavadeiras, pastores, reis de barro bem pintados. 
Nisto, sou eu própria fixada pelas personagens que admiro. Vejo-me como uma delas e isso é bom. Como se me tivesse sentado junto daquele casal, das suas visitas, a fazer miminhos ao bebé. Como está sereno e feliz, o menino.
Tantos presentes que está a receber. Eu estou de mãos vazias. Só tenho aqui uma pequena gaita de beiços na algibeira. Então, timidamente, começo tocar a «Noite Feliz». Tudo ecoa dentro de mim.
Acho que a música é uma prenda feliz.



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