- Tens um minuto?
- Tenho um minuto.
- Ok. Hoje para mim também não pode ser mais.
- À vontade, amigo. Ficámos ontem no tema da ciência.
- Pois. Eu lembro-me. Dizia-te que a ciência está em tudo. Na arte, na religião, no amor...em tudo.
- Concordo.
- No entanto, a nossa comunicação verbal tem de viver com os conceitos separados, porque temos que discriminar no mundo em que vivemos para nos podermos entender e situar as áreas de conhecimento. Os idiomas, tão complexos, tão ricos, tão culturais, são tão limitados quanto os seres que os criam, os utilizam, os enriquecem ou não, os difundem.
- É verdade. Estes assuntos gosto de os pensar contigo. Porque tudo o que o Homem cria ou desenvolve pode ser extraordinário, mas é sempre limitado como ele próprio.
- Sim, todos somos ainda muito limitados. Claro que os mais curiosos e atentos visam encurtar essa sua incompletude no entendimento das coisas. Contudo, quanto mais discernidos somos, mais consciência temos de que a evolução do mundo é feita por avanços e recuos no tempo-espaço de um ou mais grupos. Nada de pressionar o outro. E mesmo assim... Podemos todos saber que a mentalidade humana e a convenção das palavras não pactuam com a sede acelerada de mudança de um ou outro visionário. Mas temos medo de errar e não validamos solitariamente o visionário. Afinal porque o faríamos? Na melhor das hipóteses, talvez um dia...se ele se aproximar...
Mas somos uma generalidade que não pára de pensar. Ultrapassamos os cânones. Vemos a ciência com criatividade. A arte com método. A religião com ficção. A ficção com factos. Os factos com amor. O amor com poder. A vontade com consciência. A consciência com espiritualidade...e por aí fora. Mas mais do que isso, cada vez compreendemos melhor as fragilidades das definições humanas. Compreendemos que, afinal, tudo é tão ténue e incompleto e nada tem fronteiras verdadeiramente legítimas. Julgamos que nos conhecemos, mas duvidamos das ideias que alimentamos a cada passo. Tropeçamos inevitavelmente na contaminação universal entre tudo aquilo que existe. Porque somos um todo, o uni-verso e a vista humana é ainda tão curta.
(Olham-se pensativamente. Afinal o que é o minuto para estes indivíduos? Despedem-se com um abraço sorridente)
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