Abraço adiado

Queremos passar para o outro lado? Sim, sim, mais a retoma das condições do mercado e com mais medidas de apoio social. Mas o que é mesmo o desconfinamento? É que eu ainda tenho o coração em block out. Preocupa-me a preocupação do desconfinamento e do confinamento de nós os mais idosos, pois... complicado... que tem sido bastante atenuado com videochamadas, que têm ajudado muito... mas que a solidão mata, mata. Vivermos sós no meio de muita gente. Virtual? Distanciamentos e mais distanciamentos. Cheguem-se para lá. Há quanto tempo vivemos assim? Quem é que vai comer hoje  o treinador? (ouves vozes)

Cada porta quer ser uma janela. Parar para olhar à distância. Entreaberta? Sim. Que o vírus não entra. E já podemos tocar à campainha com luvas ou com um cotovelo qualquer. Já podemos falar, com máscara. Pelo menos assim... Mas fala sff, sem que o vírus perceba...

Vamos entrando, meus senhores...ou é melhor falar à porta? fica a porta aberta, just in case,  e ninguém se zanga porque a visita é rápida. Que a sala está à espera. E a cozinha a arrefecer. Não se pode comer? levantem a máscara, afastadinhos, bem comportados em cada canto. Morrer por morrer que morra o vírus. São muitos? Que já cá andam há tempo demais...e a prole é alargada, malandros dos coronas. 

E como está, ali, o nosso primo viajante valente? olhe que tem que ter cuidados, que o povinho quer ganhar, qualquer dia já está tudo bem. Menos o ambiente? temos que fazer um melhor ambiente para bem de toda a gente. Com arte e amizade. Gosta de olhar a vida, hein?!

Não se preocupe. Todos um dia havemos de morrer. 

Mas quem é que hoje em dia deixa a porta aberta? Isto aqui é como uma igreja. Sabe, coma, estamos fartos de ter medo. Quem quiser assaltar, leve o ouro, que é bom pechisbeque, e, olhe, sempre é alguém que cá vem desde que não nos roube a pouca saúde, que essa ainda nos faz muita falta. É uma forma de arejar. E fazer higiene mental, que a outra higiene, fazemos alguma, mas com esta idade... Já estão na escada? De máscara posta e as mãos guardadas. É a liberdade em tempos de pandemia. E de porta aberta. Vai uma cotovelada e uma sapatada, que o abraço continua adiado?