SOU UMA ESCOLA DE FADO
Saber o que se passa no mundo.
Ligo a rádio ou a televisão, folheio um periódico…Não. Melhor do que
isso. Vou conectar-me com o planeta. Sento-me ao computador. Quantas vezes? Hoje
em dia…bem, é a ligação segura a uma distância confortável. Opções infindáveis.
Sem negas ao vivo ou olhares dissonantes. Nem gestos alheios sorrateiros. É o meio
mais conquistador... Quase… Haverá outros. Embora a tradição já não seja o que
era. Pesquiso sites sobre tradição. O som em forma
de arte, por exemplo. Olha este: sou uma escola de fado. A bem dizer, até que é um bom assunto.
A nossa música sem taxas alfandegárias. Um som sem deferências, com as notas
sem quedas na bolsa. Há o da desgraçadinha, da enjeitada, da moça caída, dos
olhos fatais… uma tristeza cantada com alegria elevada às lágrimas, com tantas
notas belas que é um espanto de arrebatamento. Continuo: situada
em Lisboa, cerca de 30 alunos, de canto e guitarra portuguesa e viola, alguns com
prémios, 17 anos, há 4 anos todos os domingos das 16 às 20 horas...
Ó Fernando Jorge, és fadista e não revelavas. Cantas e encantas. E é
esta a escola deste meu amigo. Sempre em grande matiné do fado. E da
mulher que ontem o trauteou. E da filha que o filmou. Ah Fernando fadista! Guitarra
pin na lapela e tudo. Nós estávamos lá e pudemos testemunhá-lo. Um role de
fadistas consentidos, uns mais lançados do que outros, com a mesma entrega, o
mesmo amor à arte, a mesma alquimia de fechar os olhos e ver todos os amigos ausentes,
todas as dores aliviadas, todas as paixões consumadas e o aroma de um
chouricinho assado à espera com um jarrinho à casa. Para os apreciadores, pois
claro. O Fernando foi convidado a cantar mais um fadinho à nobre gente. Lindo!
Bravo! Palavras arremessadas por incontinência vocal, amordaçadas pelo
silêncio partilhado.
Nós, fracos apoiantes, já pensámos num oportuno corridinho às aulas do
Clube Lisboa Amigos do Fado para abrirmos, à vez, a nossa goela a ver se de lá
sai alma lusa dolorida ou fado rafeiro desalmado. Uma desgraça nunca vem só…lá
diz o velho ditado.
Melhor é impossível. Em Chelas, lugar castiço, prendado com janelinhas
enfeitadas de roupa pobre de pontas e de molas, xailes vistosos dependurados, um
beco dos aflitos, a praça do querido Fernando Maurício e outros requintes de
amor à vista.
Só visto, cantado é sempre um risco.
Boa, senhor Armando.
Lisboa, 17 de dezembro de 2012
Rosa Duarte
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