segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

à tua...


SOU UMA ESCOLA DE FADO

Saber o que se passa no mundo.

Ligo a rádio ou a televisão, folheio um periódico…Não. Melhor do que isso. Vou conectar-me com o planeta. Sento-me ao computador. Quantas vezes? Hoje em dia…bem, é a ligação segura a uma distância confortável. Opções infindáveis. Sem negas ao vivo ou olhares dissonantes. Nem gestos alheios sorrateiros. É o meio mais conquistador... Quase… Haverá outros. Embora a tradição já não seja o que era. Pesquiso sites sobre tradição. O som em forma de arte, por exemplo. Olha este: sou uma escola de fado. A bem dizer, até que é um bom assunto. A nossa música sem taxas alfandegárias. Um som sem deferências, com as notas sem quedas na bolsa. Há o da desgraçadinha, da enjeitada, da moça caída, dos olhos fatais… uma tristeza cantada com alegria elevada às lágrimas, com tantas notas belas que é um espanto de arrebatamento. Continuo: situada em Lisboa, cerca de 30 alunos, de canto e guitarra portuguesa e viola, alguns com prémios, 17 anos, há 4 anos todos os domingos das 16 às 20 horas...

Ó Fernando Jorge, és fadista e não revelavas. Cantas e encantas. E é esta a escola deste meu amigo. Sempre em grande matiné do fado. E da mulher que ontem o trauteou. E da filha que o filmou. Ah Fernando fadista! Guitarra pin na lapela e tudo. Nós estávamos lá e pudemos testemunhá-lo. Um role de fadistas consentidos, uns mais lançados do que outros, com a mesma entrega, o mesmo amor à arte, a mesma alquimia de fechar os olhos e ver todos os amigos ausentes, todas as dores aliviadas, todas as paixões consumadas e o aroma de um chouricinho assado à espera com um jarrinho à casa. Para os apreciadores, pois claro. O Fernando foi convidado a cantar mais um fadinho à nobre gente. Lindo! Bravo! Palavras arremessadas por incontinência vocal, amordaçadas pelo silêncio partilhado.

Nós, fracos apoiantes, já pensámos num oportuno corridinho às aulas do Clube Lisboa Amigos do Fado para abrirmos, à vez, a nossa goela a ver se de lá sai alma lusa dolorida ou fado rafeiro desalmado. Uma desgraça nunca vem só…lá diz o velho ditado.

Melhor é impossível. Em Chelas, lugar castiço, prendado com janelinhas enfeitadas de roupa pobre de pontas e de molas, xailes vistosos dependurados, um beco dos aflitos, a praça do querido Fernando Maurício e outros requintes de amor à vista.

Só visto, cantado é sempre um risco.

Boa, senhor Armando.

                                                                          Lisboa, 17 de dezembro de 2012

                                                                                         Rosa Duarte

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