sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

um palco em cena


JOAQUIM BENITE 

Desculpem. Não pude estar presente para lhe fazer a minha última homenagem. Sei que milhares o fizeram, felizmente. Muito merecidamente. Mas mesmo assim gostaria de apresentar o meu profundo sentimento cheio de memórias espetaculares de que preciso agradecer-lhe. Um contributo inestimável e contagiante no teatro português. E em particular na dádiva do teatro às escolas, que foi como  o conheci, aquele diretor que falava connosco e nos pedia opiniões depois dos ensaios gerais. E nos proporcionava o convívio despretensioso e espontâneo, preenchido de tópicos atuais e recreativos. Como aprendi. E continuarei a aprender, naturalmente…

Às vezes não precisamos de conversar muito para nos conhecermos pessoalmente. Vemo-nos e comunicamos em grupo. Assim foi com o Joaquim Benite. Com a discreta saudação. E às vezes a conversa breve e casuística. Os seus assessores ofereciam-me, em seu nome, o resto da disponibilidade necessária. A Sónia e a sua menina encantadora. O Miguel e os outros. Em equipa, dando a conhecer a arte teatral a muitos meninos e jovens de estratos socioeconómicos problemáticos e a revisitá-la. Antes a preço zero. Numa altura em que as Câmaras podiam apoiar mais iniciativas como as do Teatro Municipal de Almada. O António Assunção a fazer o Monólogo do Vaqueiro numa sala dos barracões da Moinho de Maré. Ator convidado da Companhia. E tantos outros, nas instalações junto à escola primária em Almada. Que os maravilharam. O Dom Quixote. Os Dias Inteiros nas Árvores. Os Dias Felizes. A Mãe Coragem. O Valente Soldado Schweik. O Carteiro de Pablo Neruda. Guerras do Alecrim e da Manjerona. O Memorial do Convento. A Purga do Bebé…eram abertas inscrições destinadas a todos os que quisessem alinhar. Bastava estar à hora junto ao autocarro cedido. À noite, sobretudo.

Somos um país de atores, escritores, poetas e lenhadores. Aquele escritor que vai talhando nas suas tábuas o esforço e a comoção. Assim é o muito trabalho do sonhador que quer reerguer uma Companhia na periferia de Lisboa, sem se retrair com distâncias e com os “desertos” do sul. O teatro do oprimido. A voz do camponês e de operário. A minoria na maioria. A multiculturalidade. Sempre avante. Sem constrangimentos. E assim nasceu um festival cheio de Teatro que fez de Almada o lado certo instituído e irrevogável. A capital do mundo do Teatro português, ibérico e ibérico-americano. Mas não só.

O nosso Quim que nasceu homem e se imortalizou. Cá continuará.

O meu obrigado.

                                                      Laranjeiro, 7 de dezembro de 2012

                                                               Rosa Duarte

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