JOAQUIM BENITE
Desculpem. Não pude estar presente para lhe fazer a minha
última homenagem. Sei que milhares o fizeram, felizmente. Muito merecidamente.
Mas mesmo assim gostaria de apresentar o meu profundo sentimento cheio de
memórias espetaculares de que preciso agradecer-lhe. Um contributo inestimável e
contagiante no teatro português. E em particular na dádiva do teatro às
escolas, que foi como o conheci, aquele diretor
que falava connosco e nos pedia opiniões depois dos ensaios gerais. E nos
proporcionava o convívio despretensioso e espontâneo, preenchido de tópicos
atuais e recreativos. Como aprendi. E continuarei a aprender, naturalmente…
Às vezes não precisamos de conversar muito para nos
conhecermos pessoalmente. Vemo-nos e comunicamos em grupo. Assim foi com o
Joaquim Benite. Com a discreta saudação. E às vezes a conversa breve e
casuística. Os seus assessores ofereciam-me, em seu nome, o resto da
disponibilidade necessária. A Sónia e a sua menina encantadora. O Miguel e os outros.
Em equipa, dando a conhecer a arte teatral a muitos meninos e jovens de
estratos socioeconómicos problemáticos e a revisitá-la. Antes a preço zero.
Numa altura em que as Câmaras podiam apoiar mais iniciativas como as do Teatro
Municipal de Almada. O António Assunção a fazer o Monólogo do Vaqueiro numa sala dos barracões da Moinho de Maré. Ator
convidado da Companhia. E tantos outros, nas instalações junto à escola
primária em Almada. Que os maravilharam. O Dom Quixote. Os Dias Inteiros nas
Árvores. Os Dias Felizes. A Mãe Coragem. O Valente Soldado Schweik. O Carteiro
de Pablo Neruda. Guerras do Alecrim e da Manjerona. O Memorial do Convento. A
Purga do Bebé…eram abertas inscrições destinadas a todos os que quisessem
alinhar. Bastava estar à hora junto ao autocarro cedido. À noite, sobretudo.
Somos um país de atores, escritores, poetas e lenhadores. Aquele
escritor que vai talhando nas suas tábuas o esforço e a comoção. Assim é o muito
trabalho do sonhador que quer reerguer uma Companhia na periferia de Lisboa,
sem se retrair com distâncias e com os “desertos” do sul. O teatro do oprimido.
A voz do camponês e de operário. A minoria na maioria. A multiculturalidade.
Sempre avante. Sem constrangimentos. E assim nasceu um festival cheio de Teatro
que fez de Almada o lado certo instituído e irrevogável. A capital do mundo do
Teatro português, ibérico e ibérico-americano. Mas não só.
O nosso Quim que nasceu homem e se imortalizou. Cá
continuará.
O meu obrigado.
Laranjeiro, 7 de dezembro de 2012
Rosa Duarte
Sem comentários:
Enviar um comentário