quarta-feira, 6 de março de 2013

crónica publicada no Setúbal na Rede, semana 792


JORNALISMO ESCOLAR 

A imprensa escolar não é um luxo nem trabalho em vão. É, na modesta categoria de media, o órgão noticioso de escola com uma linguagem jornalística potencialmente diversificada. Atualmente num suporte preferencialmente online.

Não será suficiente a página da escola?

Eu julgo que não, porque uma folha informativa ou mesmo um jornal obedece a um formato adequado, com determinada periodicidade regular, secções informativas e opinativas, repórteres/alunos em campo, um público-alvo… enfim, participações distintas e integradoras. Tudo tem os seus próprios objetivos, o seu saber e o seu labor. Não é por acaso que existem ações de formação, workshops, cursos próprios. Podemos sempre questionar a qualidade da conceção de cada curso, o elitismo académico, alargar o constrangimento ao ensino português em geral, ao proselitismo, às metodologias, às escolas ou correntes… Sabendo contudo que é pela prática que se faz o artista. Neste caso, o jornalista. Que no início depende da orientação de um mestre. Pelo menos… Quem conhece as andanças laborais sabe bem que entre aquilo que aprendemos na escola e o que nos é exigido no mundo do trabalho vai a sua distância…sem querer ser muito eufemística. 

Quando eu concluí o meu curso, ignorava como se planificavam aulas, se preparava o trabalho ao longo dos períodos letivos, se adequavam as metodologias aos níveis de ensino, se faziam testes de avaliação, se organizavam visitas de estudo, se devia ser diretor de turma… e muitas outras tarefas. Basta dizer que na primeira aula cheguei atrasada porque andei a “passear” pelos diferentes blocos à procura da sala que deveria conhecer. E quando a encontrei, já não tinha alunos. Nas apresentações, a rapaziada não contava muito com todos os professores… Numa escola do Barreiro onde éramos quase todos provisórios e ainda estávamos puros para o fácil companheirismo e as sérias amizades, unidos nas adversidades.

Diz-se que a primeira é a mais marcante. Sobretudo aquela que está próxima das nossas aspirações e da formação académica eleita. Reconhecemos testemunhos que atestam o fosso existente entre a escola e o mundo do trabalho. Num curso superior de Telecomunicações, por exemplo. E cito este porque tem ainda alguma empregabilidade em Portugal. Mas cada posto requer uma aprendizagem que, a cada passo, questiona a teoria aprendida. Não que esteja incorreta ou desatualizada, mas por estar suficientemente desajustada das solicitações atuais das empresas. Quem diz este, diz outros cursos... Mesmo os cursos profissionais de nível II e III do ensino básico e secundário. Já para não falar da dificuldade em arranjar os estágios minimamente adequados, em função dos interesses e competências dos alunos. Estágios esses que muitos já não são obrigatórios para concluir os estudos. O que é bom, porque facilita, mas é mau, porque facilita…

 Um comentador televisivo há dias concluía o seu raciocínio afirmando que atualmente o desemprego é maior do que aquele que havia antes do 25 de abril, mas que a fome não é tanta porque senão as pessoas tinham mesmo que arranjar qualquer emprego, mesmo emigrando em massa, como faziam dantes. Mas tudo indica que não falta muito, pelos vistos (2,6 milhões de portugueses em risco de pobreza ou de exclusão social, não é?!). Se de facto existiu um novo riquismo em Portugal com a abertura dos mercados europeus, agora está a ser drasticamente deposto por um empobrecimento económico e ético demolidor.

Qual é então o papel social da escola?

As escolas têm trabalhado para estar cada vez mais atentas à educação e aos problemas dos alunos. E neste seu trabalho concertado, tentam desenvolver os seus pontos fortes. Mesmo os mais individuais. Que deverão contribuir sempre para o espírito de equipa, cooperação e inclusão. E o jornal escolar é um dos projetos possíveis de interação educativa e comunitária estruturante. Se for um sério barómetro cultural e escolar. Não os trapos das gazetas da sociedade de Eça, onde “Os políticos de hoje eram bonecos de engonços, que faziam gestos e tomavam atitudes, porque dois ou três financeiros por trás lhes puxavam pelos cordéis…" in Os Maias, capítulo XVIII.             
http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=19126                                                                  
                                                                                                          Rosa Duarte

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