segunda-feira, 18 de março de 2013

os ciclos da natureza removem os destroços das crises humanas


Quase me sinto tentada a escrever uma “composição” sobre a Primavera. Não que eu costume pedir, a seco, esses temas aos meus alunos. É um bom mote para qualquer um de nós pensar, sentir e escrever. Muito batido, logo nas primeiras letras. Mas é especial porque a Primavera continua a mesma, encantadora e inspiradora. Com a vantagem que é suficientemente vigorosa para não se deixar afetar pela melancolia provocada pelas crises económicas deste país, desta Europa, diria mesmo do mundo inteiro. Porque esta crise, como as outras todas, é de natureza ética, refletida de forma potenciadora na economia e na governação política. Ainda não se consegue dispensar a sociedade não civil das sociedades humanas. Mas sabemos que é a ela que cabe moralizar pelo exemplo e regulamentar as boas práticas de cidadania de modo a estrangular a margem de corrupção e de prevaricação. Se o problema é intrínseco à deseducação social do ser humano, há que apostar na sua profunda educação e reabilitação. E a melhor pedagogia de qualquer simples pedagogo é tão somente o seu próprio exemplo.

Voltando à Primavera… à beleza e à alegria que são estruturantes para a predisposição e limpar o nervo para reavaliar a vontade de conquistar o que falta. Respirar e apreciar a graciosidade das mais discretas manifestações da primeira verdade (prima vera) para compreendermos que a vida tem muito mais para além das batatas e das batalhas diárias pela sobrevivência. E são inúmeras as suas ternas invitações à contemplação dos pequeninos bolbos a brotarem nos ramos sadios das árvores, as tenras folhinhas a despontar, as manchas acolchoadas coloridas, amareladas, alaranjadas, numa seiva telúrica atapetada de verdume húmido de sais e cheiro a minhoca.

O sol já se vai deixando estar. É deixá-lo. E pinta mais forte, a pincelada larga, as estradas celestes sem nuvens. E estas se as há, são uma ou outra que se passeia pelo azul como inocente carneirinho pelos quadros vivos do eterno Magritte.

                                                     Laranjeiro, 18 de março de 2013

                                                               Rosa Duarte
 

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