terça-feira, 11 de outubro de 2016

«A Violência no Namoro» no Diário da Região



Crónica de opinião «A Violência no Namoro»
Diário da Região
11 de outubro de 2016
Rosa Maria Duarte


A violência no namoro

A palavra namorar é bonita e foi acolhida pelo léxico português quando o vocábulo enamorar deu à luz outra de si, ao deixar cair a sua primeira letra: (e)namorar.

O enamoramento é um impulso de namorar, aquele estado emocional preparatório de alegria e satisfação desencadeados pelo encontro com uma pessoa que é, à partida, capaz de compreender o seu par e, a seu tempo, partilhar a sua vida com ele. Embora o estádio de enamoramento possa, embora não deva, alimentar-se do desejo do chamado “parceiro ideal”, a maturidade do namoro vai sendo revelada pela qualidade da relação afetiva e de integração social a partir da disponibilidade mútua para a aceitação do outro.

As campanhas contra a violência no namoro têm-se vindo a fazer e intensificar e, por enquanto, são muito pertinentes; por enquanto, ainda não são suficientes…
Ainda que a violência no namoro seja uma temática com várias abordagens e exija clarificações rigorosas no âmbito psicológico, sociológico, pedagógico e/ou outro, o facto é que atualmente é integralmente condenável, absolutamente evitável, realisticamente erradicável, pois aprendemos (ou podemos aprender) a lidar com as emoções, que são muitas e algumas inesperadas, e refletir em conjunto sobre elas para nos coresponsabilizarmos pela certeza dos valores dessa atitude de rejeição coletiva da violência e providenciar as desejadas ajudas dialogadas.
O que é violência no namoro? Berrar é violência. Manipular verbalmente é violência. Torturar física ou psicologicamente é violência. Troçar é violência. Mentir ou distorcer os factos é violência. Manietar é violência. Difamar é violência. Isolar é violência. Enfim, agredir é violência…
É certo que não há relações perfeitas porque não há seres humanos perfeitos. Mas a violência não é uma simples imperfeição humana. É crime.
E falar, marcando posição contra a ‘violência afetiva’ pode favorecer uma imagem social, mas não dispensa um trabalho e atenção constantes para melhorar os pensamentos e as atitudes diárias que cabe a cada um de nós.
Compreender e intervir para ajudar é o caminho. E quem está à volta do casal, seja ele mais ou menos jovem, (familiares, amigos, vizinhos…), tem hoje mais obrigações morais e legais do que antes.
Os conflitos humanos partem habitualmente de problemas de comunicação. Às vezes a linguagem dos afetos não é usada com clareza verbal e/ou de espírito. Cada um com as suas razões ou limitações, que muitas vezes são indecifráveis: timidez, hesitação, euforia, adulação, inexperiência, nervosismo… Mas o diálogo e a serenidade são bons conselheiros. Quando construídos a dois…
O que é que o outro quer que eu pense de mim?
É uma questão pertinente que se pode colocar. Cada indivíduo deve conhecer-se bem, sem precisar da opinião alheia, simpática ou maliciosa. Quanto maior é a proximidade ao(s) outro(s), mais crescente é a intervenção do juízo e influência alheia sobre o sujeito em causa.
(Quase) naturalmente, as culturas e conveniências moldam o indivíduo, q.b., muitas vezes mais do que o exigível; à medida de certos interesses, quando não sobretudo de preconceitos. E os pares per si, para se tentarem harmonizar, cometem falhas, mesmo involuntárias. Até por amor, mesmo que soe a contradição ou hipocrisia.
Mas é errado quando as cedências de um elemento do casal, em situação de namoro ou em vida conjugal, são de permissividade para com violências físicas ou psicológicas como a traição ou os maus tratos verbais.
O amor, a solidão, o medo conhecem-se há muito. Foram criados pelo universo. Para evitar o medo, o sol ofereceu o amor aos olhos do homem e fez nascer dele a arte como sua companheira. Por isso ele nunca se sente só, quando a partilha com o seu par.
E assim é possível namorar sem violência. A certa altura ouve-se um deles a perguntar ao outro: «O que é que eu fiz para merecer tanto amor da tua parte?»

                                                            Rosa Maria Duarte



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