domingo, 30 de outubro de 2016

O FADO DA DESGRAÇADINHA

O FADO DA DESGRAÇADINHA






- Ai pobre senhora de mim, coitadinha
Que não posso largar o fado, que desgraça
Mal ponho o pé na rua, nesta praça
Trauteio um corridinho à chilreada.

- Bom dia senhorita comadre Delfina,
Tão cedo e já pois n’afinação, vó mercê?
Com esse ar de santa senhora, tão fina
Vai cantar um novo fadinho, pois você?

- Nã compadre, vou mas é à missinha
Nã vê que tenho que pedir perdão à luz divina
Por est’alma vejo qu’anda perdida
D’amores pela saudosa cantoria.

- Pobre coitada, sua senhoria, pois nã vê
Que noss’Senhor é tão bom e quer
C’a madame se queira assim embeicê
P’la bela oração do mar me quer.

- Acha mesmo, compadre Zé Xanto?
É que nesta fraca fraqueza do canto
A goela que ora e canta a todo o pranto
Nã seca o coração na fé, ai fado santo.

- Ora vê?! Pois dê mais pano ao sentimento
C’a careta nas costas é de quem mente.
O padre benze e bate o pé no seguimento
E absolve em graça e sê omi que fica crente.

30 de out 2016
Rosa Maria Duarte




O fado iluminado
Rosa Maria Duarte
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