- Viva. Então como vão esses pensamentos hoje?
- Olá. Cá moram dentro de mim. Entram e saem, à espera que eu os deixe sair, de preferência, com a sonoridade das palavras do nosso idioma (esboça um sorriso).
- E que belo idioma o nosso! Tem um léxico alargado. A esse propósito: sabias que os poetas podem ter um papel tão elevado que o poder das palavras vai para além da mensagem e da beleza da sua melodia?
- O que é que queres dizer com isso?
- Eu sei que é um tema que dá que pensar, que dá que escrever e sobretudo que conversar. A título de exemplo, já te falei no livro «O Esoterismo de Fernando Pessoa» de Dalila Pereira da Costa? Falo-te nele porque sei que gostas da poesia pessoana.
- Ah! Já me tinhas falado, sim. Referes-te ao pendor espiritual das palavras que um poeta pode conferir ao seu pensamento poético.
- Sim. Ou mesmo que involuntariamente confere. Aquelas palavras que dão um conhecimento mais profundo do seu espírito. Como se um determinado conjunto de palavras, pronunciadas em silêncio ou não, fossem um sopro macio de energia subtil no nosso coração.
- Que interessante! Acho que já senti um pouco isso. Quer dizer: já tive momentos em que só o simples ato de abrir uma Bíblia num qualquer capítulo, aleatoriamente, me fazia sentir algo vital muito invulgar, como uma sensação quase física, tipo carícia fresca e agradável. Super estranho!
- Acredito. Cada um vivencia o poder do amor de forma pessoal. E o amor está muito presente em palavras poderosas, porque as recebemos como tal.
- Eu sei que há pessoas que acham que é fruto da imaginação, mas há também quem já tenha sentido algo do género. Como tu sabes, eu nem sou muito de praticar rituais. E nem tenho por hábito ler a Bíblia ou livros espirituais. Aquilo aconteceu-me, simplesmente.
- Claro. Eu respeito-te muito pela tua franqueza e coragem. Admiro-te por essa capacidade de te observares, apesar da tua jovem idade. É preciso também saber questionar. Ser-se rigoroso. E nunca perder a ciência como a grande referência.
- Sim sim. Concordo contigo. Mas sabes, se calhar sou aquilo que oiço dizer: uma alma velha.
- Hã? Se calhar somos duas almas velhas. (Sorriem) O meu corpo é outra história.
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