RESPEITO PELO SIGNIFICADO HISTÓRICO
DO FORTE DE PENICHE
A nossa velha pátria tem-se esforçado nos últimos séculos,
mas ainda não recuperou devidamente a sua reputação quinhentista de povo
empreendedor e de bons valores nacionais.
De mão estendida desde há muito, tempo demais, vai dando
provas de alguma capacidade de reagir às crises que vão surgindo nas diferentes
épocas e de diferente natureza e, apesar de território pequeno, procura tirar
partido do seu valor multifacetado.
Todos sabemos que ainda continuamos aquém do desenvolvimento desejado;
de, sobretudo, aprender de uma vez por todas que temos de aproveitar a
mão-de-obra nacional, jovens formados nomeadamente, que é muito boa.
Temos feito sacrifícios. Temos dado o litro; muito seria evitável
se houvesse melhor gestão e transparência… Já desesperámos, mas quero acreditar
que se vislumbram luzinhas ao fundo do túnel nacional e em contexto
internacional.
Somos pobres, ainda com uma bucha para comer, que é vital, mas
já não nos é bastante. É urgente a urgência de recuperar a dignidade no ser-se
português.
Podemos dizer, sem falsa modéstia, que temos dado bons
exemplos e bons contributos para a história europeia. A revolução do 25 de
abril foi, sem dúvida, um deles.
Por isso, há mais de 40 anos, muitos professores das escolas
portuguesas têm organizado visitas de estudo ao museu do forte de Peniche para
tornar viva na aprendizagem dos jovens a história daqueles que foram presos e
torturados e que não desistiram das suas convicções antifascistas. Alguns morrendo
para que todos os portugueses tenham hoje liberdade de pensar, falar e agir. Uma
democracia ditada por uma Constituição que se quer plural e dialogante.
Essa história que se vem ouvindo de que a história do 25 de
abril já não é tão importante como as transações comerciais para a nossa sociedade,
que o dinheiro que os privados vão proporcionar com a pousada é prioritário, revela-se
muito indigna de quem a defende.
Eu tinha apenas dez anos em 74, por isso não fui propriamente
uma resistente antifascista, mas fui educada nos bons valores da revolução dos
cravos.
Não queremos inverter um bom rumo do nosso país.
Não podemos ser carrascos da nossa própria história e erguer coletivamente
a bandeira da hipoteca e da ganância de alguns, com o pretexto hipócrita ou
ingénuo do bem comum.
Mudar para melhorar é apanágio de todos, mas não para
destruir o que nos representa no nosso melhor, no orgulho da memória da nossa
identidade.
Somos um povo com uma história de trabalho e persistência.
Não vamos envergonhar o passado com ações no presente que não
servem a causa comprometida com um futuro à altura para as diferentes gerações.
Deixemo-nos de mercantilismos desesperados.
Respeitemo-nos.
3 de novembro de 2016
Rosa Maria Duarte
Letra do fado Peniche «Abandono» de David Mourão Ferreira À entrada da Fortaleza-Museu |
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