«Cada olhar é um olhar de estudo.» William Turner.
A guitarra portuguesa é um dos instrumentos musicais mais desenhados em Portugal. Não é surpresa para ninguém.
A maneira mais prática de incluir a sua imagem é fotografá-la, naturalmente. Como habitualmente acontece nos cartazes a anunciar um espetáculo de fados.
Contudo, os pintores gostam de pintá-la. Os desenhadores de desenhá-la.
A voluta, no topo da guitarra, é desenhada ou simplificada de acordo com a posição que se desenha a guitarra portuguesa, já que esta sobressai por detrás das cravelhas, também habitualmente simplificadas no desenho ou pintura.
Stuart de Carvalhais, no seu famoso desenho da Severa, põe o guitarrista a tocar uma guitarra portuguesa cuja boca aparece sensivelmente a meio do tampo.
Até na construção dos instrumentos, os guitarreiros e violeiros, neste caso, apesar da obediência rigorosa às partes do objeto, sentem que têm alguma margem de manobra na construção dos seus instrumentos. Por vezes, gostam mesmo de introduzir uma diferença como marca pessoal.
Já repararam na guitarra que o António Zambujo tem tocado? Tem a boca chegada ao braço como as guitarras portuguesas. Só pode ser uma homenagem ao fado.
A roseta ou mosaico, que é a folhinha decorativa no tampo da guitarra portuguesa, normalmente aparece do lado direito. Mas às vezes aparece do lado esquerdo...
Não é fácil desenhar a rigor o símbolo do fado (embora a viola de fado nunca deva ser dispensada desse símbolo); sobretudo a parte superior de uma guitarra portuguesa. Mas é isso que o artista pretende? Desenhar cada cravelha, o número certo de cravelhas? Mais a cabeça ou pá tal e qual?
Quem gosta do desenho realista, dá muito valor a uma guitarra rigorosamente bem desenhada. Revela domínio e pesquisa.
Mas o desenho ou a pintura não se substitui à fotografia.
Quando o artista mostra que teve o cuidado de conhecer e reproduzir todos os contornos de um instrumento (seja instrumento ou outro objeto qualquer, claro), isso é apreciado por quem observa.
Mas cada vez mais a arte pictórica tendencialmente prima pela libertação do artista à fidelização com o comum e com a mimesis.
O domínio da técnica e da arte é fundamental para, a seu tempo, cada obreiro abrir asas e voar pelo mundo do som, do traço, da cor e do sentimento.
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