Às vezes uma bela cebola.
Às vezes uma grande cebola.
Outras, uma cebola cebolinha.
Para além de roupa, com casca
temos casca mais casca e mais casca
que nos faz fazer beicinho choramingar
mas o seu interior é de qualidade, é
porque o é, claro; e ainda chorosos
vamos saboreando o prazer da vida
o paladar mais genuíno da comida
uma boa cebolinha, quem nós somos
quando nos libertamos das tantas falsas
cascas que vamos ganhando perdendo
ao nascermos ainda não sendo senhores
nos identificam e modificam o ser.
Choramos que nem uns doidos
com tanta casca a sair e a teimar
numa vida chorada a vestir e a despir
até um dia, de pé alguns outros de nós
sentimos o frémito da vida na nua pele
às vezes a menina com que nascemos
e reconhecemos o eu genuíno renascido
para reaprender a divina palavra amor.
Choramos calamos percebemos
as cascas que nos põem sem cortesia
mexem e remexem na vida sumos
tiram e acrescentam forjadas manias
e quem é o quê não é fácil distinguir
nem quem mexe nem quem sofre o quê
os devaneios do mundo subserviente.
A nossa cebola é da terra e da lua
tem um coração sensível com raizes
sonha com o perfume da alegria azul
de um céu maior com casas de luz
beijos em estrela refletidos no mar
marinheiros fadistas modistas da dor.
Rosa Maria Duarte
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