sexta-feira, 18 de agosto de 2017

- Vem falar comigo de coisas pouco secretas, amiga.

- Como é bom ter segredos! - dizia eu, ingénua menina de minha                                                                                       mãe.
- Toda a gente tem um segredo, nem que seja muito pequenino. -
dizia-me toda a gente quando ateimava e dizia que tinha um                                                                                         segredo.

- Que eu também tenho papéis! - dizia a minha professora
quando punha Maria a falar com Telmo no Frei Luís de Sousa.

- Sei um ninho. - dizia o menino no conto de Virgílio Ferreira.

Todos nós temos qualquer coisa que pode até ser coisa nenhuma
mas que é nossa e tem um valor de uma vida cheia de muita coisa
ou de muito pouca coisa que nos dá pelo menos um algo talvez 
para respirar sentir contemplar maravilhar abraçar recordar esquecer voltar perdoar mudar sonhar escrever cantar decidir.

- Vem falar comigo de coisas pouco secretas, amiga. - digo-te hoje.
Sobre a flor que nasce na calçada junto à parede desbotada
sobre a cor da tua roupa que condiz com o céu mais azul
sobre o olhar de quem vive escondido atrás de si-mesmo
sobre a lua que quer dormir e nós não paramos de falar.

Boa noite, vizinha de mim.

Rosa Maria Duarte


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